Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias aprova por unanimidade manutenção da greve
O plenário do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) aprovou hoje em Leiria, por unanimidade, a manutenção da greve que reivindica que a associação patronal Antram cumpra o acordo assinado em maio, prevendo uma progressão salarial.
Cerca de meia centena de motoristas reuniu-se esta manhã no Estádio Municipal de Leiria e, no final, o porta-voz do SIMM, Anacleto Rodrigues, anunciou a manutenção da greve, “por tempo indeterminado”, acrescentando que a reunião serviu ainda para preparar os piquetes, “para que tudo decorra sem sobressaltos e não haja conflitos”.
O representante do SIMM afirmou ser possível uma desconvocação da paralisação caso haja “uma aproximação da Antram” que garanta “a um profissional altamente qualificado, um salário indigno”.
“A greve começa às zero horas de segunda-feira e ainda falta algum tempo. Ainda há margem para a evitarem, se assim desejarem. Até ao momento não chegou ao nosso conhecimento qualquer abertura por parte da Antram. As pessoas têm os nossos contactos, sabem da nossa abertura para resolver o problema. O que está em causa é tão-só uma relação laboral mais justa”, afirmou o porta-voz do SIMM.
Em Leiria, Anacleto Rodrigues descreveu o sentimento dos motoristas como de “revolta”, depois dos serviços mínimos pedidos pelo Governo e da declaração de estado de emergência energética.
“Já adivinhávamos que os serviços mínimos decretados fossem generosos, mas não pensávamos que fossem tanto. Neste momento, aquilo que era uma indignação da parte destes trabalhadores, que tiveram praticamente 20 anos a perder poder de compra sem uma atualização salarial, deu lugar à revolta”, disse.
Os motoristas “sentem que há uma série de poderes que se aliam e conjugam na tentativa de os silenciar, retirar voz e não deixar que venha para a praça os seus direitos e reivindicações”.
A avançar a greve, os associados da SIMM vão estar “na rua, de forma cordial”:
“Ao mesmo tempo que vamos lutar pelos nossos direitos laborais, vamos procurar dar uma lição de civismo e mudar um bocadinho a imagem que há do motorista”, garantindo, por exemplo, os serviços mínimos.
“Os sindicatos estão a trabalhar no sentido de assegurar os serviços mínimos. Os motoristas são pessoas responsáveis. Não vai haver oposição aos serviços mínimos, estamos conhecedores da lei e não se pode fazer cortes de estradas em Portugal”, garantiu.
O responsável do SIMM alertou, contudo, para a possibilidade existirem “infiltrados nos piquetes de greve”, tentando “desestabilizar e passar uma imagem errada do que são os motoristas”.
“Os coordenadores dos piquetes têm essa instrução: sempre que detetarem elementos estranhos, que os abordem e, se não forem motoristas, têm imediatamente de entrar em contacto com as forças dos elementos de segurança. Temos uma linha aberta com o comando nacional da GNR para que as forças de segurança atuem imediatamente sobre esses elementos e não sobre os motoristas”.
O SIMM criticou em Leiria a possibilidade de haver militares a conduzir veículos pesados, para suprir necessidades durante o período de greve.
“Não se compreende, e desde já fica o Governo responsabilizado por qualquer acidente que possa vir a decorrer num veículo conduzido por um desses condutores”, porque o transporte de matérias perigosas em cisterna implica “uma formação superior a cem horas”.
“Estes senhores há muitos anos que não conduzem camiões e estão a ter uma formação dada em meia dúzia de horas. Tememos essa situação”, disse Anacleto Rodrigues.
A greve foi convocada pelo SNMMP e pelo SIMM, a que se associou o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN).
Os motoristas reivindicam que a associação patronal Antram cumpra o acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.
O Governo decretou serviços mínimos entre 50% e 100%, racionou os abastecimentos de combustíveis e declarou crise energética até às 23:59 de 21 de agosto, que implica “medidas excecionais” para minimizar os efeitos da paralisação e garantir o abastecimento de serviços essenciais como forças de segurança e emergência médica.
Num parecer solicitado pelo Governo, o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República (PGR) considera que o executivo “tem direito a fixar serviços mínimos indispensáveis” para satisfazer “necessidades sociais impreteríveis”.
Entende o Conselho Consultivo da PGR que “a requisição civil só deverá ser utilizada, excecionalmente, em situações em que o incumprimento ou o cumprimento defeituoso dos serviços mínimos sejam causadores de graves perturbações da vida social”.