Raios ultravioleta usados em nova técnica que pode melhorar tratamento de cancro
Um investigador do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) desenvolveu uma técnica que, ao recorrer à luz ultravioleta, aumenta a transparência dos tecidos biológicos e permite “melhorar o diagnóstico e tratamento” do cancro.
“A aplicação destas tecnologias ópticas em medicina pretende substituir as tecnologias actuais de diagnóstico e tratamento que utilizam radiação ionizante (raio-x)”, afirmou Luís Oliveira, o investigador do ISEP responsável pelo desenvolvimento da técnica.
Em entrevista à agência Lusa, o investigador do Centro de Inovação em Engenharia e Tecnologia Industrial do ISEP explicou que a técnica surge da necessidade de se desenvolverem “métodos de diagnóstico, e até de tratamento, que não danifiquem as células ‘boas’ que o corpo humano tem”.
Em colaboração com o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto e com a Universidade Estatal de Saratov, na Rússia, o investigador analisou tecidos biológicos saudáveis e tecidos da camada muscular do cólon humano de doentes com cancro do cólon.
Sabendo que os tecidos do corpo humano possuem propriedades que “limitam a aplicação de luz” em procedimentos clínicos, o investigador optou por “trocar parcialmente a água intersticial dos tecidos [solução aquosa presente entre as células] por outro agente”.
Mergulhando os tecidos biológicos em soluções aquosas, com diferentes concentrações de glicerina, Luís Oliveira conseguiu “observar a criação de duas janelas ópticas de transparência”.
De acordo com o investigador, esta nova técnica de transparência permite, assim, “fazer um diagnóstico mais eficaz e, eventualmente, até eliminar um tumor que está entranhado no interior de um tecido”.
“A luz ultravioleta consegue penetrar mais fundo nos tecidos, sem se espalhar, permitindo adquirir imagens médicas de camadas mais profundas e, ainda, realizar cirurgias para remoção de tumores que se encontrem no interior dos tecidos”, explicou.
À Lusa, Luís Oliveira adiantou que a investigação abre “novas possibilidades”, especialmente no que concerne à realização de diagnósticos e tratamentos de patologias de forma não invasiva.
“Devido à localização espectral destas novas janelas, [a técnica] poderá permitir, entre outras aplicações, estabelecer novos protocolos de diagnóstico para o cancro, cirurgia UV, imagiologia UV, proceder ao estudo do DNA ou realizar histologia de tecidos in vitro”, concluiu.
Neste momento, o investigador já submeteu a técnica a um pedido de patente nacional e os colegas da Universidade Estatal de Saratov um pedido de patente russa, sendo que o objectivo dos investigadores passa agora por conseguir a patente internacional da técnica.