Nigéria escolhe hoje o seu presidente
A Nigéria, o país com a maior população de África, 190 milhões de habitantes, e a primeira potência petrolífera do continente, elege hoje o seu Presidente, entre o incumbente, Muhammadu Buhari, e o líder da oposição, Atiku Abubakar.
Ao longo do último mês, Buhari, candidato do Congresso dos Progressistas (APC), e Abubakar, do Partido Popular Democrático (PDP), principal partido da oposição, percorreram os 36 estados do país, com recordes históricos de participações nos comícios.
O dia de São Valentim, na passada quarta-feira, colocou um ponto final na campanha para as presidenciais e legislativas no país, e foi dia de emoções fortes.
Enquanto uma multidão em delírio esperava Buhari no local onde iria estar, em Daura, no nordeste do país, o seu rival fazia uma última declaração de amor a milhares de apoiantes no seu Estado natal, Adamawa, também no nordeste.
“Eu amo-vos”, lançou o candidato da oposição (Partido Popular Democrático, PDP) no seu último comício, em Yola. Este é um amor antigo: Atiku Abubakar, ex-vice presidente de Olusegun Obasanjo (1999-2007), tem 72 anos, é riquíssimo, e candidata-se pela quarta vez ao cargo, com mais hipóteses do que nunca de chegar à presidência da primeira economia de África e principal exportador de petróleo do país.
Para isso, terá que convencer a maioria dos 84 milhões de eleitores inscritos num escrutínio que se anuncia muito disputado e de resultado imprevisível.
Os resultados deverão ser anunciados nas 48 horas seguintes ao encerramento das urnas, mas o processo de contagem dos votos é complexo e pode demorar mais tempo.
O vencedor terá que obter, para além da maioria dos votos sufragados, pelo menos 25% dos votos em dois terços dos 36 estados, e ainda do território da capital federal, Abuja. Se esta conjugação de resultados não se verificar, haverá uma segunda volta das presidenciais na semana seguinte.
O partido no poder parte para estas eleições com uma vantagem demográfica, mas a oposição pode beneficiar de um desempenho medíocre do atual chefe de Estado, com 76 anos, num mandato marcado pela recessão económica (2016-2017) e pelo forte aumento da insegurança em muitas regiões do país.
Organização titânica, tensões de segurança, compra de votos, as eleições de hoje apresentam-se como um verdadeiro desafio para este país, que em 2015 se mostrou como um exemplo democrático em África.
Um dos fatores determinantes nas escolhas políticas na Nigéria, o fator étnico, tem no escrutínio de hoje uma importância mitigada. Ambos os principais contendores, Buhari e Abubakar, são houçás e muçulmanos, pelo que a decisão não será tomada por força da religião ou etnia.
Apesar do número recorde de eleitores inscritos para as eleições gerais de hoje -- presidenciais, legislativas e para a escolha dos governadores --, a afluência às urnas tem vindo a ser ameaçada pelo surto de violência associada ao extremismo islâmico protagonizada pelo grupo rebelde Boko Haram.
A polícia e as forças militares nigerianas anunciaram estar prontas para garantir a segurança da votação em todo o país, mas os ataques do grupo ‘jihadista’ têm-se intensificado nos dias que antecederam as eleições, sobretudo no nordeste do país, e este poderá ser um fator muito dissuasor da participação eleitoral, sobretudo nas regiões mais afetadas.
Buhari foi eleito em 2015 com a promessa de destruir os rebeldes do Boko Haram durante o mandato que agora chega ao fim. O facto, no entanto, é que o grupo terrorista se mantém como uma muito forte ameaça, e os seus ataques provocaram já 1,9 milhões de deslocados na Nigéria, segundo a Amnistia Internacional (AI).
Uma onda de ataques sucessivos no nordeste da Nigéria está na origem de cerca de 60 mil refugiados desde novembro, no que é o maior registo de refugiados dos últimos dois anos, e leva as Nações Unidas e as organizações não-governamentais a operar na região a temer uma reedição da crise do Boko Haram.
Desde o início da insurgência do Boko Haram em 2009, pelo menos 35 mil pessoas foram mortas. Os ataques na vasta região do lago Chade, que engloba partes dos Camarões, Chade, Niger e Nigéria, provocaram mais de 2,5 milhões de deslocados, incluindo 1,9 milhões internos na Nigéria e 250 refugiados nigerianos.