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Embaixador de Portugal quer mais participação cívica de portugueses em França

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O embaixador de Portugal em França defendeu na sexta-feira que a comunidade portuguesa tem de participar mais na vida cívica do país de acolhimento e que as relações entre os dois países estão “num momento muito importante”.

“Percebo a opção da primeira vaga de emigração em concentrar-se naquilo que era o seu dia-a-dia. Mas há um momento em que se sucedem gerações com maior preparação e o ser respeitado por ser honesto, trabalhador e silencioso já não é suficiente. As pessoas estão integradas na sociedade francesa e têm uma palavra a dizer na forma como as coisas vão evoluir”, começou por dizer, em entrevista à agência Lusa, Jorge Torres Pereira.

Na noite de sexta-feira, dia em que cumpriu um ano de missão na capital francesa, o embaixador condecorou cinco portugueses que, pela sua actividade e intervenção cívica, ganharam relevo na comunidade: Ana Paixão, José Costa Esteves, Mapril Baptista, Fernando Lopes e Jorge Mendes Constante.

No discurso de abertura da cerimónia, o diplomata Jorge Torres Pereira disse aos presentes que os portugueses e luso descendentes não podem ser uma comunidade silenciosa em termos de intervenção cívica.

“Já temos muitos exemplos de pessoas eleitas em câmaras municipais por toda a França e também deputados, mas se fizermos a estatística em relação aos franceses descendentes de portugueses e a percentagem em que estão representados, o valor é baixíssimo”, acrescentou Jorge Torres Pereira.

Este apelo surge num momento em que as relações entre Portugal e França estão a atravessar um período “muito importante”, segundo o embaixador.

“Neste lado da relação política e económica pura, eu constato que estamos num momento muito importante. Nunca houve tão grande número de voos por semana entre França e Portugal. Quando falamos de estatísticas de turismo, falamos em três milhões de turistas franceses em Portugal no ano passado e a França tornou-se o primeiro cliente na exportação de serviços”, indicou Jorge Torres Pereira.

Em relação aos sectores a desenvolver, o embaixador indicou que a cooperação científica, nomeadamente no domínio aeroespacial e economia do mar, são algumas das prioridades.

“Há uma cooperação científica mais clássica em termos de instituições académicas, mas queremos projectos industriais para melhorar os nossos níveis de inovação tecnológica e um dos sectores que me vem à cabeça é o aeroespacial. Uma outra área é a economia azul. Há boas relações entre as instituições, mas falta a componente industrial”, considerou o diplomata.

Outra aposta do embaixador é continuar a dinamizar a língua portuguesa.

Recentemente a França tornou-se observador associado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e o embaixador refere que há agora vontade do Governo português de se associar também à Organização Internacional da Francofonia.

“Fala-se, também, a prazo, de uma temporada cruzada cultural entre os dois países o que será um momento único para mostrar as duas culturas”, revelou o diplomata, que se diz impressionado com “a multiplicidade de momentos do calendário cultural francês em que já há presença de criadores portugueses”.

A temporada cruzada é uma mostra alargada da cultura portuguesa em França e da cultura francesa em Portugal, em que os países se convidam mutuamente para exposições, cooperação bilateral e outras actividades.

No âmbito da cultura, destacou um momento emblemático deste intercâmbio cultural no seu ano primeiro ano de missão em Paris: a peça “Madame Bovary” encenada por Tiago Rodrigues, que, ao mexer num “dos monstros sagrados da cultura literária francesa”, suscitou “um aplauso unânime do público” parisiense.

Jorge Torres Pereira apontou, ainda, as exposições de Paula Rego, no Museu de l’Orangerie, e a que juntou Rui Chafes e Giacometti na delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris.