Estudo da UMa permite reconstituição de floresta Laurissilva nos Açores
Um estudo do Grupo de Botânica da Madeira (GBM), da Faculdade de Ciências da Vida da Universidade da Madeira (FCV-UMa), realizado na ilha do Faial, nos Açores, corroborou as observações históricas dos primeiros cronistas, que afirmavam a grande abundância de Ginjeira brava (Prunus azorica), uma árvore que é hoje extremamente rara nos Açores.
O estudo, que será publicado no Jornal cientifico ‘Review of Palaeobotany and Palynology’ (ELSEVIER), na edição de Fevereiro de 2020, contou com a colaboração de investigadores do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, da Universidade Politécnica de Madrid e do Grupo de ecologia e biogeografia insular da universidade de La Laguna, e incidiu numa abordagem multidisciplinar envolvendo Vulcanologia, Paleontologia, Taxonomia e Anatomia Vegetal e História.
O artigo está disponível para consulta online.
Entre os anos 700-1100 d.c., em plena idade média, ocorreu na ilha do Faial, nos Açores, uma erupção vulcânica. Durante esta erupção produziu-se uma nuvem ardente com temperaturas superiores a 235ºC que abateu e revestiu mais de metade da ilha, tendo soterrado e carbonizado as florestas que cobriam a ilha.
O trabalho de campo efectuado em 2016 por Carlos Góis-Marques, do GBM, na ilha do Faial, permitiu a recolha de vários troncos carbonizados intercalados em depósitos desta erupção. O estudo da anatomia vegetal destes troncos carbonizados, através de microscopia óptica e microscopia electrónica de varrimento, permitiu a identificação de sete árvores e arbustos que actualmente existem nos Açores.
Entre os fósseis encontrados verificou-se uma abundância de troncos carbonizados de Ginjeira brava (Prunus azorica) uma árvore que é hoje extremamente rara nos Açores. Esta descoberta corrobora as observações históricas dos primeiros cronistas, que afirmavam a grande abundância desta árvore nos Açores, tendo sido referida inúmeras vezes pelos textos do séc. XVI de Gaspar Frutuoso (1590) e de Valentim Fernandes (1508).
A quase ausência desta árvore na Laurissilva dos Açores deve-se à grande destruição da floresta nos primeiros séculos da colonização destas ilhas, para a obtenção de material de construção, combustível e abertura de áreas para agricultura e pastoreio. Aventa-se igualmente a hipótese de ter sido eliminada por ser tóxica para o gado, como aliás, descreve Gaspar Frutuoso em 1590.
Carlos Góis-Marques é assistente convidado pela UMa e aluno de doutoramento em Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto Dom Luiz, realizando a sua tese sob orientação dos professores José Madeira (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), José María Fernández-Palacios (Universidade de La Laguna) e por Miguel Menezes de Sequeira (FCV-UMa). O doutoramento é financiado pela ARDITI - Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação.