Vale tudo por um novo conteúdo
Novos tempos. É o que temos. Tudo se faz em prol da imagem, do ser reconhecido ou famoso
As redes sociais dominam a vida dos mais jovens e a percepção que os outros têm deles parece justificar ir além de todos os limites. Existem hoje em dia muitos chamados “influencers” e muitos mais com a pretensão e o desejo de lá chegar. Na ilusão de terem uma vida quase perfeita, entre viagens de borla, jantares oferecidos, marcas patrocinadoras e uma legião de fãs, com posts que podem ascender aos milhares de euros, este é a nova “carreira” de sonho. São aos milhares e fazem de tudo para lá chegar. No grupo onde trabalho recebemos dezenas de emails todos os dias destes novos alpinistas sociais, de todas as idades, alguns até menores, que prometem um impacto nas vendas merecedor de tais parcerias. Querem uma ou mais noites no hotel, um jantar ou ida à piscina. Em troca juram realizar conteúdos atrativos que compensam tal oferta. Mostram-nos os (supostos) números, as faixas etárias do seu público alvo, o impacto gerado pelas publicações. O negócio é assim um escambo à moda do antigamente, uma troca comercial ou se quiser uma permuta.
Se no principio eram poucos e as idas ao restaurante mostrar os pratos, as viagens ou os hotéis faziam a diferença, agora já não é bem assim. Especialmente com o aparecimento do TikTok e do YouTube. As pessoas querem ver mais, coisas diferentes, provavelmente nunca vista. Escolhas arrojadas e vídeos polémicos e eles lá vão seduzidos pela fama, sempre um pouco mais além para conseguir atingir a tão ambicionada fama. Muitas miúdas usam o seu próprio corpo e poder de sedução para angariar uns quantos papalvos que se imaginam com elas enquanto veem as suas fotografias. Com isso sobem o número de interações e impactam o tal número mágico que faz as marcas mostrar algum interesse. Há quem enriqueça à custa disto, mostrando vidas aparentemente perfeitas, gerando invejas e frustrações. Por mim está tudo bem, só vê e acredita quem quer. O problema é que para inovar num mercado cada vez mais preenchido é preciso fazer diferente e neste caso fazer diferente pode ser também chocar, invadir a privacidade de alguém ou ir para lá de tudo o que é razoável.
É a isso que temos assistido nos últimos tempos. Atitudes irrefletidas, situações que colocam os próprios e os outros em risco de vida, comportamentos inusitados e altamente condenáveis, chegando à pratica de crimes, na ânsia de mostrar, partilhar, de ser reconhecido ou valorizado. Veja-se o caso de Tiago Grila, um artista com ar de toureiro louco, que com umas tiradas ridículas e atitudes parvas consegue arrastar milhares de jovens que lhe seguem todos os passos. Tudo faz e diz para ter atenção, não importa se é gozado ou ridicularizado. Chegou ao cúmulo de dizer em direto que tinha atropelado uma jovem ou de afirmar que tinha Madeleine McCann em sua casa. Não medem as suas palavras nem os seus atos e depois queixam-se de ter que arcar com as consequências. Há uns dias 3 desses chamados influencers montaram alegadamente uma cilada a uma miúda e fizeram vídeos enquanto a violavam. Vídeos esses que foram partilhados por milhares de pessoas. Assim se trucida a vida de uma adolescente que nunca mais se esquecerá do que lhe aconteceu para que uns abusadores ganhassem mais uns minutos de fama.
Novos tempos. É o que temos. Tudo se faz em prol da imagem, do ser reconhecido ou famoso. Não importa se pelo meio de magoam pessoas, se estilhaçam vidas e se se deixam marcas que nunca mais se apagam. O que vende, o que os outros querem ver ou comprar, só isso vale. E no final de contas vale tudo muito pouco…