Professor assume "quase tudo" dos 3.734 crimes de abuso de crianças de que está acusado
Um professor primário da Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, confessou hoje "quase tudo" dos 3.734 crimes de abuso sexual de crianças de que está acusado, cometidos sobre 11 alunas, justificando-os com "um impulso incontrolável", assumindo "profundo arrependimento".
Estas informações foram transmitidas aos jornalistas por Artur Marques, advogado do arguido, à saída do Tribunal Criminal de Guimarães, após a pausa para almoço da primeira sessão de julgamento, que decorre à porta fechada por decisão do coletivo de juízes, devido ao tipo de crimes em causa e por envolver menores.
Segundo o advogado, o seu constituinte, com 50 anos e que se encontra em prisão preventiva, fez "uma confissão de quase tudo" de que está acusado, acrescentando que assumiu "um profundo arrependimento" pelos seus atos, pedindo "desculpa e perdão" pelos mesmos.
Em tribunal, o arguido negou alguns dos crimes de abuso sexual e os crimes de maus tratos, pelos quais também está acusado pelo Ministério Público (MP).
Questionado sobre o motivo pelo qual o arguido terá cometido os factos, Artur Marques revelou que o seu cliente justificou a sua conduta com "um impulso incontrolável".
O advogado referiu também que o seu constituinte tem agora consciência "da gravidade" dos atos praticados, sublinhando que está a ter acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
Quanto à condenação que o tribunal vier a aplicar ao arguido, Artur Marques diz que são muitos factos e muitos crimes, sendo difícil antever uma pena.
O julgamento vai prosseguir à tarde.
Na contestação aos Pedidos de Indemnização Civil (PIC) apresentados por mais de metade das menores, a que a agência Lusa teve acesso, o arguido pretende indemnizar oito das 11 alegadas vítimas, mas diz ter só 30 mil euros.
A acusação do MP, a que a agência Lusa teve também acesso, conta que o professor primário praticou os crimes na sala de aulas, sobre alunas entre os 6 e os 9 anos, enquanto lecionava, entre setembro de 2017 e 07 de maio de 2024, dia em que foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) e ficou, desde então, em prisão preventiva.
O MP diz que o professor do primeiro ciclo do ensino básico "quotidianamente, a pretexto de explicar matéria escolar ou esclarecer dúvidas", chamava as vítimas para junto da mesa onde lecionava na sala de aula, colocava-as no seu colo e tocava-lhes.
Nesse sentido, sustenta a acusação, desde o ano letivo 2017/2018 até 07 de maio de 2024, excetuando o período de interrupção escolar devido à pandemia de covid-19, "diariamente, em plena sala de aula", o arguido "sentou uma ou duas alunas em cada perna, ao mesmo tempo que lecionava perante os restantes alunos".
Além dos 3.734 crimes de abuso sexual de crianças agravado, o docente está também acusado de três crimes de maus-tratos alegadamente cometidos sobre três outros alunos, uma menina e dois meninos, a quem, segundo o MP, deu palmadas na cabeça, agarrou e puxou o cabelo e as orelhas e chamou "burro, palerma, estúpido".
O arguido, que era professor primário há cerca de 24 anos, vai ainda responder por três crimes de pornografia de menores.
"A conduta do arguido comprometeu e compromete seriamente o desenvolvimento harmonioso das vítimas, uma vez que contende com o núcleo mais essencial para o desenvolvimento harmonioso de uma pessoa: a sua intimidade, a disposição do seu corpo, o estabelecimento saudável das relações de proximidade com terceiros e a criação de laços familiares com os mais próximos", sublinha o procurador do MP.