ONU observa avanços para destruição dos 'stocks' de armas químicas
A alta representante das Nações Unidas (ONU) para o Desarmamento indicou hoje que observou avanços na Síria em matéria de destruição de eventuais restos do programa de armas químicas desenvolvido sob o anterior regime de Bashar al-Assad.
Num 'briefing' ao Conselho de Segurança da ONU sobre o percurso das armas químicas da Síria, Izumi Nakamitsu ressaltou a extrema importância de encerrar todas as questões pendentes relacionadas com esse dossiê e lembrou que, sob o regime de Assad, a equipa da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) reportou um total de 26 questões pendentes sobre esse tipo de armamento, das quais 19 permanecem por resolver.
"O Secretariado Técnico da OPAQ informou que a substância das 19 questões pendentes continua a ser uma preocupação séria, uma vez que envolve grandes quantidades de agentes de guerra química e munições químicas potencialmente não declarados ou não verificados", frisou, considerando 'inegável' que as autoridades anteriores não declararam a extensão total do programa de armas químicas.
Contudo, Izumi Nakamitsu afirmou que, com o surgimento de uma nova realidade política na Síria, surgiu também uma oportunidade para obter os esclarecimentos há muito esperados sobre a extensão e o âmbito completos do programa de armas químicas sírio, para livrar o país de todo esse armamento, para normalizar as relações com a OPAQ e para garantir o cumprimento a longo prazo da Convenção sobre Armas Químicas.
"A Síria começou a tomar medidas no sentido deste objetivo", garantiu a representante da ONU.
O ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Asaad al-Shibani, anunciou na quarta-feira que a Síria vai participar pela primeira vez na sua história no Conselho Executivo da Organização para a Proibição de Armas Químicas.
Em fevereiro passado, durante uma visita a Damasco do diretor-geral da OPAQ, o espanhol Fernando Arias, o Governo provisório sírio comprometeu-se a cooperar com a organização após a queda de al-Assad, acusado de utilizar armas químicas durante a guerra civil no país árabe, que eclodiu no calor dos protestos populares em 2011.
A visita concluiu que foram lançadas as bases, após "11 anos de obstrução" por parte do antigo regime, para trabalhar "no sentido de encerrar definitivamente o ficheiro de armas químicas da Síria e promover o seu cumprimento a longo prazo, a estabilidade regional e a contribuição para a paz e segurança internacionais".
Agora, Izumi Nakamitsu admitiu "sentir-se ainda mais encorajada" com o compromisso das novas autoridades sírias "em destruir quaisquer restos do programa de armas químicas desenvolvido sob as autoridades anteriores, trazer justiça às vítimas e garantir a conformidade da Síria com o direito internacional".
"Tenho o prazer de observar que, como resultado do renovado compromisso, as novas autoridades sírias e o Secretariado Técnico da OPAQ já começaram a trabalhar no sentido destas metas. Nos próximos dias, uma equipa de peritos técnicos do Secretariado será enviada para Damasco para trabalhar no estabelecimento da presença física permanente da OPAQ na Síria e começar a planear conjuntamente as deslocações em locais de armas químicas", anunciou a alta representante da ONU.
Apesar dos progressos, Izumi Nakamitsu mostrou-se cautelosa, advogando que o trabalho que se aproxima não será fácil, uma vez que a população do país permanece com significativas necessidades humanitárias, de segurança e de recuperação.
"Para realizar todas as tarefas necessárias para livrar a Síria de todas as armas químicas, o Secretariado Técnico da OPAQ e as novas autoridades na Síria necessitarão de um forte apoio e de recursos adicionais da comunidade internacional", disse, pedindo diretamente aos membros do Conselho de Segurança para "que se unam e mostrem liderança no fornecimento do apoio que este esforço sem precedentes exigirá".
"Esta é uma ação prioritária que aborda diretamente a futura segurança da Síria, dos Estados da região, bem como da comunidade global", concluiu.
A missão de inquérito criada pela OPAQ em 2014, na sequência de repetidas alegações de utilização de produtos tóxicos como armas em território sírio, confirmou a utilização de armamento proibido em cerca de 20 casos na Síria, frisando que o cloro foi utilizado em 14 ocasiões, e tanto o sarin como o gás mostarda foram utilizados em três casos cada.