Audiovisual na passagem do milénio

Desde que os irmãos Lumiére criaram os primeiros filmes - 1895 (ainda que sem som), a fábrica de sonhos tinha nascido… O audiovisual foi crescendo e ganhando cada vez mais espaço até ser o que é hoje, omnipresente.

Hoje somos bombardeados com signos visuais que proliferam na nossa sociedade.

As outras artes visuais (pintura, escultura, desenho, etc) foram perdendo espaço para o cinema/vídeo, excepto a fotografia. A informação visual é a que nós retemos melhor nas nossas memórias pessoais.

Depois das cameras de Super8 (anos ‘60), que já foram um grande avanço na democratização do registo fílmico; nos anos 80, a proliferação e consolidação do Video foi a possibilidade das pessoas poderem gravar e rever o que quisessem e não estar dependentes da transmissão. Os clubes de Video cresceram como ervas, aqui na região o maior era o Aguiar no Bairro do Hospital.

Televisão. A nossa RTP Madeira, era uma mescla das duas RTP nacionais e umas “pitadas” de produção regional. A programação era bem diversificada.Havia quem tivesse antenas exteriores e a sorte de captar a TVE Canarias.

Séries como “MacGyver” (engenhocas), “Uma família às direitas” (o rabugento Archie), “Knight Rider” (O Tesla da altura), “Alf” (com o divertido alienígena), só para citar algumas das melhores que passaram pelo nossa então caixa mágica.

Hoje é costume, as pessoas fazerem maratonas de séries (já como produções cinematográficas), mas a overdose é sempre mau... E, uma série televisiva nunca terá o valor artístico de um filme. O cinema é a grande arte!

Nos jogos de computador, o ZX Spectrum com as suas 8 cores enchia-nos os olhos, e a música encantava-nos com o comando Beep. Tornávamo-nos participantes daquele sonho colorido. Surgia também a programação Basic que foi o início para muitos programadores. Era uma nova dimensão interactiva que as anteriores gerações não desfrutaram. O “Match Day” (de forma simples) era como se sentir um jogador e marcar golos!

Em 1992 a TV Cabo chega à Madeira, antes até do espaço nacional…Foi uma grande mudança na mentalidade e informação no panorama visual da RAM.

De repente, veio a liberdade televisiva. Tínhamos a Eurosport, documentários, canais italianos, espanhol ou o turco Show TV, e o então polémico e falado Canal 19…

A MTV que na altura era um verdadeiro canal de música. Representava a inovação, o “coolness” da altura, as estrelas pop/rock, a montagem rápida dos videoclips, influenciou uma nova geração de realizadores. Programas como “European Top 20”, “Alternative Nation”, “Greatest Hits” ou “Headbanger’s ball” não são indiferentes à geração X.

Em casa fazía-se videos rudimentares e familiares. Pondo a cassete HI8 ou VHS-C, gravando com Rec e Pause. Puxar para a frente e para trás com o play pelo meio. Depois gravando em Beta ou VHS e até misturando com músicas do CD através do cabo Jack.

Cabos e cabos, cassetes e mais cassetes de video pelas casas… Havia até os específicos rebobinadores de video, e convinha rebobinar antes de entregar a cassete alugada.

O cinema tinha outra autenticidade, habituámo-nos com “Rei dos Gazeteiros”, a franchise “Rocky”, “Caça-Polícias”(bandas sonoras com sintetizadores), etc; e sem o excessivo politicamente correcto de hoje em dia e os exagerados efeitos CGI!

O agora nomeado “gaming” então no PC, já com gráficos mais desenvolvidos assim como o som. O “Sensible Soccer”, o “Indiana Jones” e depois (já em CD) : “Tomb Raider”, “Interstate 76” ou “FIFA” foram marcantes. Havia já mais rapidez e jogabilidade.

Os jovens de hoje não tem noção do trabalho, tempo e paciência que acarretava, os nossos dispositivos estavam todos separados. Hoje está tudo num telemóvel. Esta geração tem tudo simplificado. Nem se apercebem da evolução tecnológica que foi percorrida ao longo das décadas. É pertinente essa consciência histórica.

Hoje há muito audiovisual e até cinema “light”, mas muito poucos dominam essa inteligibilidade específica. O audiovisual tem uma linguagem própria assim como tem a escrita...

Hoje somos constantemente rodeados pelo audiovisual e não deixa de ser curioso que os “nerds” dos computadores são os novos senhores do mundo!

Agora já estamos dentro de um jogo, o qual já nem poderemos sair...

Rodrigo Costa