Silêncios ou aplausos?
Certamente que todos concordamos que, na Madeira, a paisagem é de uma beleza ímpar. O mar encontra a terra como se ambos fossem velhos amantes, as montanhas erguem-se em desafios à gravidade, e o verde insiste em sobreviver mesmo onde a rocha diz que não pode.
Mas o que mais me preocupa não é a paisagem natural (aqui temos somente de a preservar…), mas sim, uma outra paisagem, menos visível, mais entranhada: a paisagem do silêncio. Na Madeira aprendeu-se cedo que falar alto pode ser um risco, que ter opinião pode custar caro, e que desafiar quem manda é um exercício de futilidade. Não porque falte coragem - coragem há, e muita -, mas porque, geração após geração, construiu-se um sistema onde a mudança é um monstro feio e indesejado. O medo de perder o pouco que se tem é maior do que a vontade de lutar pelo muito que se poderia ter. A política tornou-se um espectáculo de estádio. Os partidos não são espaços de debate, são claques organizadas com tambores, bandeiras e megafones. Quem está no poder bate palmas ao chefe, quem está na oposição bate palmas ao seu líder, e os eleitores, a plateia, limitam-se a observar, esperando a sua vez de receber uma “bucha” qualquer. Um emprego aqui, um favor ali, uma promessa que pode ou não ser cumprida. É um jogo viciado, onde todos fingem que jogam, mas só alguns ganham.
E assim se passa o tempo, com gente capaz, gente séria, gente talentosa a aprender a arte da resignação. Baixar a cabeça torna-se um reflexo condicionado, um mecanismo de sobrevivência. Quem levanta a voz é inconveniente, é “maluco”, é alguém que não sabe o seu lugar. E o lugar certo, dizem, não é na mesa de decisões, mas sim aplaudindo quem já está sentado.
A tragédia da Madeira não é a falta de futuro. O futuro está aqui, pronto, esperando para ser construído por quem tiver a ousadia de o agarrar. A tragédia é essa ideia vendida - e comprada - de que levantar a cabeça não vale a pena.
Mas vale. E talvez esteja na hora de provar isso.
Tenho dito!
José Augusto de Sousa Martins
