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PS - crónica de um desastre anunciado

1. Em 2007, num fórum sobre educação do PS na preparação das eleições antecipadas por causa da LFR, alertei sobre o descontentamento da classe docente na Madeira com Lourdes Rodrigues. Caíram-me quase todos em cima (exceto o atual vereador pontassolense Leonardo Santos). Depois foi a hecatombe eleitoral.

2. Em 2011, no processo de escolha de um candidato a Presidente do Governo (Maximiano Martins), discordei do processo de escolha, que devia ser na Comissão Regional. O presidente do partido retirou-me a palavra. Veio nova derrota eleitoral.

3. Em 2023, quando o líder do PSD anunciou uma coligação PSD/CDS para as regionais desse ano, pedi um encontro com um alto dirigente do PS para saber qual a solução estratégica do PS e a resposta é que não havia nada a fazer. Em resultado desse conformismo, elaborei uma Moção Global a propor uma coligação pré-eleitoral tendo como núcleo o PS, envolvendo todos os partidos da Oposição disponíveis para o efeito. A Moção foi entregue, mas rejeitada num processo recambolesco que já é conhecido. O problema não foi terem retirado a Moção do debate. Mas terem conduzido o PS à derrota estratégica profunda que acaba de ter.

4. Não me move nenhum interesse em eleições no PS/M enquanto essas eleições não forem Eleições Livres, o que pressupõe um homem um voto e livre acesso aos cadernos eleitorais das diferentes candidaturas, em respeito pelos Estatutos. A luta pelo lugar na lista para a AR não me diz respeito. Aliás, por duas vezes recusei integrar candidaturas ao parlamento nacional por questões políticas e ética.

5. Em 2024, defendi publicamente a responsabilidade institucional do PS, viabilizando os orçamentos regionais e garantindo a estabilidade governativa. Mas o PS seguiu a linha do Chega de judicialização da Política e votou a moção desse partido que deitou abaixo o Governo da Região. Resultado: o PS perdeu o poder de influenciar a governação e entregou agora todo o poder ao PPD. Já o Chega deixou de ser o fiel da balança, c’est à dire, factor do desequilíbrio do regime e de instabilidade do Estado de Direito Democrático. Para já, na Madeira.

6. A atitude de Pedro Nuno Santos na noite eleitoral deste Domingo foi inaudita. Sacudiu a água do capote e lavou as mãos como Pilatos. Ora por que não o podia fazer? Além de ser líder, Pedro Nuno Santos não se pode declarar alheio ao que se passa na Madeira.

7. De facto, o líder nacional do PS deveria ter desautorizado politicamente a decisão do PS M de apoiar a moção do Chega – ou, afinal, não há linhas vermelhas? -, tal como Ângela Merkel quando a sua CDU se aliou à AfD de extrema Direita na Turíngia. Por que razão não o fez? Justamente porque Pedro Nuno Santos segue igualmente a linha de judicialização da Política a nível nacional. Veja o que se passou na Madeira antes que seja tarde de mais.

Miguel Fonseca

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