EUA retomam voos de deportação de migrantes para a Venezuela
Um avião fretado pela companhia aérea venezuelana Conviasa transportando 199 migrantes deportados dos EUA aterrou hoje na Venezuela, retomando os voos de deportação ordenados pelo Governo norte-americano.
Estes voos de deportação dos Estados Unidos para a Venezuela foram suspensos há um mês, com ambos os governos a acusarem-se mutuamente de boicotar um acordo alcançado em janeiro.
"Hoje, vamos receber 199 compatriotas", anunciou o ministro do Interior venezuelano, Diosdado Cabello, no Aeroporto Internacional de Maiquetía, na capital, Caracas.
O voo acontece uma semana depois da deportação de 238 venezuelanos para uma prisão de segurança máxima em El Salvador, que o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, classificou de sequestro.
Este é o quarto voo que transporta venezuelanos deportados dos Estados Unidos: os dois primeiros partiram de El Paso, no Texas, a 10 de fevereiro, seguindo-se um outro com 177 migrantes detidos na prisão de Guantánamo, em Cuba, e depois repatriados via Honduras.
Os voos foram interrompidos depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, descontente com o ritmo das deportações, ter revogado no final de Fevereiro a licença concedida pelo ex-Presidente Joe Biden ao grupo petrolífero Chevron para trabalhar na Venezuela.
"Os voos estão a ser retomados. Se as viagens foram irregulares, a culpa não é da Venezuela. Estamos prontos para receber os venezuelanos onde quer que estejam", explicou Cabello.
A Venezuela e os Estados Unidos romperam as relações diplomáticas em 2019, durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), que impôs um embargo petrolífero depois de considerar ilegítima a primeira reeleição de Nicolás Maduro, em maio de 2018.
Washington também não reconheceu a reeleição do líder venezuelano após as eleições de 2024.
Os EUA acusam os cidadãos venezuelanos transferidos para El Salvador em 16 de março de pertencerem ao gangue Tren de Aragua, que Trump classificou como uma organização terrorista.
Washington invocou uma lei de 1798 que autorizava a expulsão sem julgamento de "estrangeiros inimigos", num gesto que Caracas considerou "anacrónico" e que um juiz federal norte-americano classificou como "altamente problemático".
Desde 2014, quase oito milhões de venezuelanos abandonaram o país, fugindo do colapso económico e da inflação que o Governo venezuelano atribui às sanções dos EUA.
No domingo, o Governo dos EUA anunciou que vai colocar um fim ao estatuto legal de 532 mil migrantes latino-americanos que receberam ordem para deixar os Estados Unidos no prazo de poucas semanas.
Neste grupo, incluem-se migrantes cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos, que chegaram aos Estados Unidos ao abrigo de um plano apresentado por Joe Biden.
Depois de a ordem do Departamento de Segurança Interna ser oficializada, os migrantes abrangidos por este programa perderão as suas proteções legais no prazo de 30 dias.
O Governo venezuelano estima que cerca de 155 mil dos seus compatriotas possam ser afetados.