DNOTICIAS.PT
PUB
PUB
Alterações Climáticas Mundo

Degelo dos glaciares desencadeará avalanche de impactos em cascata

Paisagem da Laguna 69, Cordilheira Branca, Peru.  Foto DR/ONU/Randy Muñoz Asmat
Paisagem da Laguna 69, Cordilheira Branca, Peru.  Foto DR/ONU/Randy Muñoz Asmat

O degelo dos glaciares pode desencadear uma avalanche de impactos em cascata nas economias, ecossistemas e comunidades a nível mundial, alertou hoje a Organização das Nações Unidas (ONU), no primeiro Dia Mundial dos Glaciares.

"O relatório Estado do Clima Global 2024 da OMM (Organização Meteorológica Mundial) confirmou que entre 2022 e 2024 se assistiu à maior perda de glaciares em três anos alguma vez registada", afirmou a secretária-geral desta agência da ONU, Celeste Saulo, citada num comunicado da OMM.

PUB

"A preservação dos glaciares não é apenas uma necessidade ambiental, económica e social. É uma questão de sobrevivência", salientou.

Cinco dos últimos seis anos testemunharam o recuo mais rápido dos glaciares de que há registo, indicando relatórios da OMM e do Serviço Mundial de Monitorização dos Glaciares (WGMS) que, em muitas regiões, o que era designado como o "gelo eterno" dos glaciares não sobreviverá ao século XXI.

Mais de 275.000 glaciares em todo o mundo cobrem aproximadamente 700.000 quilómetros quadrados. Juntamente com as camadas de gelo, os glaciares armazenam cerca de 70% dos recursos globais de água doce, constituindo as regiões de alta montanha as torres de água do mundo.

O esgotamento dos glaciares ameaça assim o abastecimento de centenas de milhões de pessoas que vivem a jusante e dependem da libertação de água armazenada nos invernos anteriores, além disso, no curto prazo, o degelo aumenta os riscos de inundações, alerta a OMM no comunicado.

Com base numa compilação de observações mundiais, o Serviço Mundial de Monitorização dos Glaciares estima que os glaciares (separados das camadas de gelo continentais da Gronelândia e da Antártida) perderam um total de mais de nove biliões de toneladas desde que os registos começaram em 1975.

"Isto equivale a um enorme bloco de gelo do tamanho da Alemanha com uma espessura de 25 metros", afirmou o diretor do WGMS, Michael Zemp, citado no comunicado.

O ano hidrológico de 2024 foi o terceiro ano consecutivo em que todas as 19 regiões glaciares sofreram uma perda líquida de massa. A perda de massa dos glaciares foi de 450 mil milhões de toneladas, o quarto ano mais negativo de que há registo.

Embora a perda de massa tenha sido relativamente moderada em regiões como o Ártico canadiano ou a periferia da Gronelândia, os glaciares da Escandinávia, Svalbard (Noruega) e do Norte da Ásia sofreram a sua maior perda anual de massa alguma vez registada.

Um estudo coordenado pelo WGMS, com base no Exercício de Intercomparação do Balanço de Massa dos Glaciares (GlaMBIE) e divulgado na revista científica Nature no início deste ano, indica que entre 2000 e 2023 os glaciares perderam 5% do gelo, variando a perda entre 2% nas Ilhas Antárticas e Subantárticas e quase 40% na Europa Central.

A perda global de massa glaciar totaliza naquele período 6,5 biliões de toneladas ou 273 mil milhões de toneladas de gelo perdidas por ano, de acordo com o estudo, o que equivale ao que toda a população mundial consome atualmente em 30 anos, considerando três litros por pessoa por dia.

PUB

O derretimento dos glaciares é, a seguir ao aquecimento dos oceanos, o fator mais importante para a subida global do nível do mar e o degelo durante o período de 2000 a 2023 contribuiu com um aumento de 18 milímetros.

"Isto pode não parecer muito, mas tem um grande impacto: cada milímetro de subida do nível do mar expõe mais 200 mil a 300 mil pessoas a inundações anuais", explicou Zemp.

Os cientistas preveem que, a manterem-se as atuais taxas de degelo, muitos glaciares no oeste do Canadá e nos Estados Unidos, na Escandinávia, na Europa Central, no Cáucaso e na Nova Zelândia não sobreviverão ao século XXI.

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2025 como o Ano Internacional da Preservação dos Glaciares e estabeleceu o dia 21 de março como o Dia Mundial dos Glaciares, com o objetivo de "aumentar a consciencialização sobre o papel vital que os glaciares, a neve e o gelo desempenham no sistema climático e no ciclo hidrológico, além da sua importância para a economia local, nacional e global".

Podcasts

×