Captura anual do peixe-espada deve ser limitada às 2 mil toneladas
Investigador admite também período de defeso no mês de Novembro e até 12 milhas da costa
Não exceder as 2 mil toneladas anuais de capturas do peixe-espada-preto e, eventualmente, decretar período de defeso no mês de Novembro junto à costa, por ser a época do auge da desova da espécie, é o que defende João Delgado, biólogo marinho e investigador da Direcção Regional das Pescas, e co-autor do livro ‘O Tesouro do Mar Profundo', que aborda a evolução histórica e científica da pesca do peixe-espada-preto.
À margem da apresentação da obra literária, João Delgado coloca a fasquia das capturas anuais nas 2 mil toneladas, quantidade pescada no último ano nos mares da Madeira.
“A espécie nos últimos 10 anos tem estado estável com capturas na ordem das 2 mil toneladas”, destaca, para considerar que este valor deve ser “o tecto-alvo que não deve ser ultrapassado” para que o stock “se mantenha activo”.
Faz notar que 2 mil toneladas, tendo cada exemplar em média 2 kg, representa “cerca de 1 milhão de indivíduos que são retirados todos os anos pela pesca”, número relevante de “um recurso que deve ser cuidado”.
Faz notar que uma moratória que proíbe os navios da pesca de arrasto de pescarem a grandes profundidades – abaixo dos 800 metros – veio minimizar as capturas de espadas imaturos e, por consequência, tem contribuído para uma melhoria dos stocks do peixe-espada-preto, espécie que vive vários anos, “pode viver 7 a 11 anos”, com a particularidade de fazer “a sua desova aqui na Madeira e esperamos que assim continue durante muito tempo”, salientou o investigador.
João Delgado além de defender que não se deve exceder as 2 mil toneladas de capturas anuais, admite uma solução complementar “que também poderá ser utilizada no futuro, se necessário”, que é interromper a pesca mais costeira da espécie sobretudo na época da reprodução – desova.
Recorda que um trabalho científico demostrou que o peixe-espada-preto na altura da reprodução – entre finais de Outubro e inícios de Dezembro - entra nas fossas abissais existentes à volta da ilha da Madeira, razão pela qual os espadeiros conseguem nessa altura boas pescarias de espada capturada próximo da costa.
“Se necessário, um eventual defeso no interior das 12 milhas de náuticas, não um defeso total, mas limitado à zona reprodutiva e poderia proteger os reprodutores seria também uma medida que seria bem-vinda para a protecção da espécie”, justifica.
E numa altura em que muito se debate a necessidade de renovar a envelhecida frota de espadeiros, o biólogo defende a medida, mas chama a atenção para a importância de não se aumentar o esforço de pesca.
“Concordo absolutamente com a necessidade de renovação. A frota está envelhecida, tem poucas condições de trabalho, até de segurança, precisa ser renovada, mas na minha modesta opinião sem aumentar o esforço de pesca. Mantendo o esforço de pesca em termos do número de anzóis que são lançados anualmente para o mar para que também não aconteça aquilo que aconteceu no fim dos anos 90 em que houve um pico em que se chegaram a capturar mais de 4 mil toneladas e, subsequentemente, o recurso teve uma descida abrupta nas capturas”, adverte.
Argumento para reafirmar que o desafio deve ser “manter estável nas 2 mil toneladas, eventualmente fazer o tal defeso em Novembro, se for necessário, e assim podermos proteger este recurso”.
Admite que no futuro a concretizar-se a tão desejada renovação da frota, que actualmente estima seja de pouco mais de duas dezenas de embarcações activas, até “poderão ser menos embarcações, mas mais eficientes, talvez com sistemas automatizados eventualmente e podendo lançar com menos embarcações o mesmo número de anzóis. Não deve é ser ultrapassado o esforço de pesca que está actualmente a ser utilizado”, insiste.
A modernização dos futuros espadeiros poderá ser também determinante para manter viva a actividade tão emblemática da classe piscatória câmara-lobense.
“É uma pescaria muito dura, muito difícil, embora seja uma pescaria rentável, porque é das pescarias mais rentáveis neste momento na região. No entanto, é necessário atrair jovens e isso poderia passar pela própria automatização da pescaria e torná-la menos dependente do trabalho braçal”, concretiza.
Sobre o livro ‘O Tesouro do Mar Profundo', o co-autor diz que o mesmo contém uma série de trabalhos seleccionados sobre aspectos variados da biologia, ecologia, dinâmica populacional do peixe-espada-preto.