Oportunidade para Machico: um Núcleo Museológico das Descobertas
Nos últimos anos, tenho vindo a alertar para a urgência de recuperar e valorizar o Forte de São João Baptista, um património histórico e fundamental para Machico. Infelizmente, o tempo passa e o estado de degradação do edifício agrava-se, fruto da inação governativa e da falta de compromisso com a nossa identidade e memória coletiva.
Inicialmente, defendi a possibilidade de uma unidade hoteleira no espaço, pois parecia ser a forma mais viável de recuperar o edifício e acabar com o abandono a que estava sujeito. No entanto, com o impasse que se arrasta e as dificuldades do processo, torna-se evidente que essa solução não garantiu a proteção e valorização do forte. Por isso, agora defendo uma alternativa que respeite a história e traga um benefício real para Machico: a criação de um Núcleo Museológico das Descobertas, um espaço que honre o papel de Machico na expansão marítima portuguesa e no encontro de culturas.
Machico não é apenas um nome num mapa. Foi aqui que Tristão Vaz Teixeira e João Gonçalves Zarco desembarcaram pela primeira vez, em 1419, tornando-se a primeira terra pisada pelos descobridores portugueses e a sede da primeira capitania da Madeira. Este facto torna ainda mais urgente a necessidade de preservar e valorizar o nosso património histórico.
Este núcleo poderia servir como um Centro Interpretativo das Descobertas, explorando a importância da Madeira na epopeia dos Descobrimentos, o seu papel como primeira colónia atlântica e ponto de experimentação agrícola, bem como a ligação da nossa terra a navegadores e rotas comerciais. Seria um local vivo, onde a comunidade e os visitantes poderiam aprender e experienciar este legado de forma interativa e educativa, assim como a sua localização privilegiada sobre o mar.
Defendo que o Governo Regional deve assumir a responsabilidade de resolver a situação do forte, seja negociando a reversão da concessão, indemnizar o promotor pelos investimentos realizados ou estabelecer uma parceria que priorize a preservação patrimonial. O que não podemos aceitar é a perpetuação do abandono e da incerteza.
A História de Machico merece ser contada com dignidade e respeito. Chegou o momento de transformar o Forte de São João Baptista num verdadeiro marco cultural e turístico, ao serviço da nossa terra, do turismo e das futuras gerações.
António Nóbrega