Brasil considera "aterrador" plano de expulsar palestinianos de Gaza sugerido por Trump
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Mauro Vieira, classificou ontem como "aterrador" o plano do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de expulsar os palestinianos da Faixa de Gaza para outras nações.
"A ideia recentemente proposta de expulsar toda a população de Gaza, ignorando os princípios mais fundamentais do direito internacional, é aterradora", disse Vieira, sem mencionar Trump, durante o seu discurso na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G20, em Joanesburgo.
"Como disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, é essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica", sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros no plenário, realizado à porta fechada, mas cujo discurso o ministério brasileiro divulgou.
Para Mauro Vieira, "a guerra em Gaza revela quem paga o preço quando a diplomacia falha. Após 15 meses de combates, mais de 47.000 palestinianos e 1.200 israelitas perderam a vida, incluindo muitas mulheres e crianças entre as vítimas. A Faixa de Gaza está devastada e a maior parte da sua infraestrutura civil destruída".
Vieira instou "todas as partes a garantirem a aplicação rigorosa do acordo de cessar-fogo" e manifestou esperança de que "resulte na retirada completa das forças israelitas de Gaza, na libertação de todos os reféns e no acesso sem restrições da ajuda humanitária".
"Defender a solução de dois Estados é ainda mais importante neste momento", concluiu o ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro.
No início deste mês, Donald Trump disse, numa conferência de imprensa com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que os Estados Unidos iriam "assumir o controlo" da Faixa de Gaza a longo prazo e reconstruí-la, transformando-a na nova "Riviera do Médio Oriente", depois de reinstalar permanentemente palestinianos noutros países.
A reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G20, que começou hoje em Joanesburgo e decorre até sexta-feira, ocorre num momento de turbulência geopolítica devido às medidas e posições de Trump, e as guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia também centram as atenções no encontro.
A propósito dos intensos - e polémicos - esforços diplomáticos do Presidente dos Estados Unidos para acabar com esses conflitos, o chefe da diplomacia brasileiro defendeu também, no seu discurso, que Rússia e Ucrânia se sentem à "mesa de negociações" de um processo de paz.
"O Brasil reconhece a necessidade de reiterar que qualquer solução viável para esta guerra deve emergir de um processo de paz que inclua os dois lados do conflito na mesa de negociações, algo que nosso país e muitos outros vêm enfatizando desde o início das hostilidades", disse Mauro Vieira.
O Secretário de Estado (chefe de diplomacia) dos EUA, Marco Rubio, que anunciou no início deste mês que não participaria na reunião de Joanesburgo, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, que participa na cimeira, tiveram na terça-feira conversações sobre a guerra na Ucrânia.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, cujo país detém a presidência rotativa do G20, alertou, na abertura da reunião de Joanesburgo, que a crescente "tensão geopolítica" no mundo representa uma ameaça à "coexistência global".