Centenas de pessoas no centro de Lisboa em solidariedade com o povo palestiniano
Centenas de pessoas juntaram-se hoje no Largo de Camões, em Lisboa, numa manifestação a apelar para um cessar-fogo permanente em Gaza e paz no Médio Oriente e para exigir ao Governo português o reconhecimento do Estado da Palestina.
Com música de fundo de tambores, danças em apoio ao povo palestiniano e empunhando bandeiras da Palestina, os manifestantes, muitos dos quais envergando o lenço tradicional palestiniano, seguravam em cartazes que apelavam para uma "Palestina Livre", para o "Fim da Ocupação" e para o "Fim ao Genocídio", na sequência da guerra na Faixa de Gaza, que já causou mais de 48 mil mortos, e que se encontra agora suspensa por um frágil cessar-fogo.
A manifestação surge num contexto marcado pelo plano anunciado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, de transferir os habitantes de Gaza para o Egito e Jordânia, e colocar o território palestiniano sob controlo dos Estados Unidos, uma medida criticada ao longo do protesto.
A ação de solidariedade "Cessar-Fogo Permanente - Fim à ocupação da Palestina - Paz no Médio Oriente", que teve início hoje às 18:00, foi organizada pelo Coletivo pela Libertação da Palestina e Confederação-Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP-IN), Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) e Projeto Ruído, para condenar "o genocídio em curso" e a "pretendida limpeza étnica dos territórios palestinianos ocupados".
No encontro, os organizadores manifestaram o desejo de um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza e exigiram ao Governo português o reconhecimento do Estado da Palestina.
Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, marcou presença na manifestação e questionou a falta de posicionamento do Governo português face aos planos anunciados por Donald Trump e pela recusa do reconhecimento do Estado da Palestina, algo que, "teimosamente, parece não querer fazer".
"Precisam de nos explicar porque é que ainda não disseram nada sobre este plano maquiavélico do Trump e do Governo israelita de quererem retirar o povo da Palestina da sua terra. Precisam de nos explicar porque é que ainda não reconheceram o Estado da Palestina, que é isto que nos traz aqui hoje. E precisam de nos explicar também porque é que, na situação atual, o ministro dos Negócios Estrangeiros decidiu fazer uma visita, neste momento, a Israel", frisou Paulo Raimundo.
Trump lançou, no início do mês, a ideia de os Estados Unidos reconstruírem a Faixa de Gaza, devastada por 16 meses de bombardeamentos israelitas, e fazerem do território uma "Riviera do Médio Oriente".
O plano, aplaudido pelo Governo de Israel, implicaria a deslocação dos mais de dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza para o Egito e a Jordânia.
O secretário-geral manifestou esperança de que a atual trégua na Faixa de Gaza se torne num "cessar-fogo permanente", de modo a que sejam criadas as condições para a "criação do Estado da Palestina e o reconhecimento do Estado da Palestina".
Tiago Oliveira, secretário-geral da CGTP, disse que a manifestação pretende defender "aquilo que é o direito do povo palestiniano a ter um país próprio, soberano e independente" e apelou ao fim de "todas estas atrocidades que estão a ser cometidas".
O dirigente da CGTP sustentou que o fim da guerra no enclave passa por encontrar uma solução "de forma política, na forma da discussão", baseada "naquilo que é a vontade de um povo inteiro", e criticou o plano do Presidente norte-americano para a Faixa de Gaza, um plano "de alguém que se acha superior".
"É um plano de alguém que acha que pode, através daquilo que diz e da pressão que faz e da preponderância que os Estados Unidos parecem querer ter sobre os restantes países soberanos do mundo, pode fazer aquilo que quer que lhe apeteça", acrescentou Tiago Oliveira.
Lara Aladina, de 50 anos, técnica de conservação e restauro obras de arte, que empunhava um cartaz onde se lia "We/I Own to Palestine" (Nós/Eu Devemos à Palestina), e uma bandeira da Palestina, apontou que o cessar-fogo "hipócrita" na Faixa de Gaza "não terminou", uma vez que Israel "continua a fazer a limpeza étnica noutras zonas da Palestina" e apelou ao reconhecimento do Estado da Palestina.
"Eu espero, especialmente que sou europeia, que os países da União Europeia (UE) reconheçam o Estado da Palestina e que lhes dê o direito de existir. Inclusive Portugal, que o chumbou outra vez, no nosso parlamento".
Cátia Santos, 39 anos, psicóloga, participou na manifestação "em solidariedade com o povo da Palestina", que tem sido alvo de "uma agressão e um massacre por parte de Israel", com "grande conivência dos Estados Unidos".
"O que se exige é um cessar-fogo permanente, o reconhecimento do Estado da Palestina e a retirada das forças de Israel imediatamente da Palestina, para que os palestinianos possam ser um povo livre e independente", afirmou Cátia Santos.
Bruno Valverde, 24 anos, que trabalha com criptomoedas, segurava numa bandeira palestiniana e disse que participou na manifestação para "mostrar solidariedade" com o povo palestiniano e apelou aos portugueses e ao Governo português para que denunciem as ações de Israel.
"O povo português tem que fazer mais e pressionar o Governo para haver uma ação concreta contra o Estado israelita, a favor da determinação dos palestinianos e do Estado palestiniano", salientou.