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Falta de jornalistas qualificados em IA e desafios éticos são forças de resistência no sector

Foto Shutterstock
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A falta de profissionais qualificados em inteligência artificial (IA) generativa e os desafios normativos e éticos fazem parte das resistências do jornalismo, enquanto o aumento da competitividade é uma pressão, sintetiza o relatório do Obercom e Iberifier hoje divulgado.

No documento "IA Generativa - Riscos e Oportunidades para o Jornalismo", os investigadores do Obercom e do Observatório Ibérico de Media Digitais (Iberifier) sintetizam seis forças de resistência do jornalismo a esta tecnologia e o mesmo número em forças de pressão.

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No que respeita às forças de resistência, apontam os desafios normativos e éticos, com a "falta de regulamentações no jornalismo e preocupações com viés algorítmico na produção de notícias" e a falta de profissionais qualificados, ou seja, "escassez de recursos humanos com competências técnicas para trabalhar com tecnologias de IA".

A resistência dos profissionais de notícias, pelo "receio de perda de empregos e do controlo sobre o processo editorial", e as limitações financeiras, devido aos altos custos económicos de implementação dos modelos de IA são outros dois focos de resistência do jornalismo.

A isto juntam-se preocupações com a opinião pública, com o "receio de reações negativas ou críticas sociais sobre o uso de IA no jornalismo" e infraestrutura técnica insuficiente, que corresponde a "alta de recursos tecnológicos adequados ou de dados de qualidade para treinar modelos de IA".

Já do lado das forças de pressão para o jornalismo, os investigadores elencam o aumento da eficiência e produtividade (automação de tarefas repetitivas, permitindo libertar tempo), a redução de custos operacionais (diminuição de gastos financeiros ao substituir processos manuais por automação) e personalização de conteúdo (uso de IA para analisar dados de audiência e oferecer notícias alinhadas aos interesses individuais).

Outros três fatores de pressão são a dependência das empresas tecnológicas, a rapidez de análise de grandes volumes de dados (processamento eficiente de informação dispersa em múltiplas fontes 'online' ou em longos documentos) e o aumento da competitividade, ou seja, "necessidade de inovar e acompanhar as tendências tecnológicas do setor".

O ChatGPT, da norte-americana OpenAI, iniciou uma 'revolução' no mundo da IA, impulsionando a concorrência.

De acordo com a previsão da Bloomberg, o mercado da IA generativa poderá representar 1,3 triliões de dólares (1,2 biliões de euros) até 2032, ou seja, dentro de sete anos.

IA generativa cria oportunidades e riscos nas redações e forças de resistência

A inteligência artificial (IA) generativa integrada nas redações está a criar oportunidades e a introduzir novos riscos, destacando-se forças de resistência e pressões no processo de implementação, conclui o relatório. "A integração da IA generativa nas redações de notícias está a criar oportunidades, como um novo tipo de editorias, e a introduzir novos riscos", lê-se ainda.

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O relatório, que faz uma análise dos estudos mais recentes sobre o tema, destaca "forças de resistência e pressões" no processo de implementação da IA generativa nas redações.

"Apesar de o futuro do jornalismo na era da IA ser incerto, consideram os autores do relatório, parece evidente que, mantendo os seus princípios e valores deontológicos fundamentais, o setor e a profissão irão mudar, quer na tipologia de empregos disponíveis, quer nas competências exigidas", segundo o documento.

No futuro, os jornalistas "poderão precisar de ser tanto proficientes em linguagem e ética jornalística, como competentes na utilização e compreensão de ferramentas baseadas em IA".

No que respeita à resistência à implementação da IA generativa nas redações, os jornalistas apontam a perda de controlo editorial sobre as notícias e o risco dos conteúdos serem produzidos de forma enviesada, imprecisa, fomentando maior desconfiança junto dos leitores, refere o relatório.

Entre as preocupações sobre o uso de IA estão as alucinações dos modelos de inteligência artificial que correspondem a informações enviesadas ou inventadas que podem reforçar estereótipos sociais.

"Os investigadores Obercom assinalam ainda a existência de pressão para o seu uso por causa da redução de custos", aponta o relatório.

O uso da IA tem como grande vantagem a análise de enormes volumes de dados, com um dos estudos (feito pela Associação Mundial de Jornais - WAN-IFRA, em 2023) a apontar que a IA generativa era sobretudo utilizada para reduzir textos e fazer pesquisas simplificadas. Noutro estudo, do Reuters Institute for the Study of Journalism, era mais usada na transcrição e revisão do texto.

"A apropriação de conteúdos protegidos por direitos autorais, por parte dos modelos de inteligência artificial generativa, suscita consideráveis preocupações legais e éticas", aponta.

As donas dos modelos de IA alegam que estes produzem trabalhos novos e não prejudicam o mercado comercial dos originais, mas os investigadores defendem que "esta lógica não aborda a natureza intrínseca da apropriação de conteúdo intelectual".

Isto porque "os modelos de IA podem não replicar na íntegra os conteúdos em que foram treinados, mas não deixam de reproduzir trechos consideráveis, assim como a essência, o estilo".

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Além disso, entra no domínio da ética: "Os benefícios da IA são desproporcionalmente colhidos por grandes plataformas tecnológicas em detrimento dos indivíduos e das instituições que contribuem para o corpo de conhecimento global".

Os investigadores antecipam que "haverá uma procura de jornalistas especializados em interpretar, validar informações geradas por IA" e que, nesse sentido, "os profissionais com capacidade de investigação aprofundada tornar-se-ão essenciais".

O estudo da WAN-IFRA aponta que 82% dos profissionais de empresas de notícias acreditam que a IA generativa vai alterar papéis e responsabilidades.

Por exemplo, o New York Times criou em 2023 o cargo de diretor editorial de iniciativas de inteligência artificial.

A procura de jornalistas altamente qualificados para verificar factos (combater desinformação) "também deverá aumentar".

A IA generativa vai gerar oportunidades para jornalistas ganharem novas competências e a literacia algorítmica será cada vez mais importante na formação destes profissionais.

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