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Desporto

Jéssica Rodrigues ficou "chocadíssima" com título mundial júnior de mass start

Foto Rui Silva/Aspress
Foto Rui Silva/Aspress

Jéssica Rodrigues ainda está a "digerir" o título mundial júnior de patinagem de velocidade no gelo, 'piso' que nem adorou quando experimentou, relevando à Lusa que não estava "mesmo nada à espera" de alcançar já este feito inédito.

"Ainda estou a digerir a situação. Está devagar, está a ser lento, porque foi uma coisa que eu não estava mesmo nada à espera que fosse agora e fiquei mesmo chocada, chocadíssima", reconhece a nova campeã do mundo júnior da disciplina de mass start.

Três dias depois de conquistar um inédito título para Portugal nos desportos de inverno, e já de regresso à sua Madeira, após um périplo que a levou de Collalbo, em Itália, onde decorreram os Mundiais, até Munique, na Alemanha, com passagem em Innsbruck, na Áustria, "sempre de autocarro", antes de apanhar dois voos para o seu destino final, a jovem de 18 anos está consciente do seu feito, mas ainda não sabe explicar como o sente.

"Senti que o meu objetivo foi cumprido", diz, num tom feliz, antes de detalhar que percebeu que chegaria ao ouro "na última reta, quando estava já no sprint final": "Já não estava a pensar em nada, só queria mesmo chegar à meta, só queria ouvir o speaker a dizer que eu era campeã mundial".

No domingo, em Collalbo, cumpriu a prova sempre na frente, depois de o pelotão se ter dividido em dois logo no início.

"As mais fortes, por opção delas, quiseram ficar no segundo grupo a marcar-se umas às outras e não ligaram tanto às portuguesas", relembrou em conversa telefónica com a agência Lusa.

Jéssica Rodrigues aliou-se a Francisca Henriques, com as duas a bonificarem no primeiro sprint, e Henriques no segundo, para somar seis pontos que lhe valeriam o quarto lugar final.

"Na segunda pontuação, que é na sétima volta, a Francisca consegue ir e eu fico a resguardar-me mais para fazer um bom sprint final. Quando dá a última volta, eu saio na reta antes da curva para a última reta, e foi só andar até à meta", completou.

Jéssica Rodrigues acabou a competição com 32 pontos, superando a espanhola Rodríguez Cornejo (21) e a norte-americana Marley Soldan (10),

O título 'recompensou' uma vida dedicada à patinagem, primeiro nas rodas e, desde 2021, também no gelo.

"Comecei a patinar com quatro anos, por causa dos meus pais. Era uma criança muito envergonhada, então eles queriam que eu socializasse mais e não crescesse com essa vergonha", conta.

Foi o treinador Alípio, que tinha o sonho de ir ao gelo, que a levou a experimentar esta outra variante da patinagem em 2021, numa 'excursão' aos Países Baixos apoiada pela Federação de Desportos de Inverno, a Câmara Municipal da Calheta e o CDR Prazeres.

"Vou ser sincera: eu não gostei muito, porque é uma modalidade muito diferente das rodas, e eu sentia-me um pato a andar. Também é normal, porque a técnica é diferente, a posição é diferente, exige muito mais esforço do que nas rodas. Mas posso dizer que em 2021, com uma semana [no gelo], eu e mais três colegas de equipa conseguimos fazer tempos já para as Taças do Mundo e conseguimos ir à Alemanha fazer uma", recorda.

Se primeiro 'estranhou' o gelo, depois abraçou-o com sucesso; antes de se sagrar campeã mundial, já tinha obtido o melhor resultado de sempre de um patinador português numa prova da Taça do Mundo de juniores, ao ser quarta no mass start, em dezembro, em Tomaszów Mazowiecki, na Polónia.

Já este ano, em 26 de janeiro, a madeirense obteve o primeiro diploma olímpico de um atleta português em Jogos de Inverno, no caso os Jogos Olímpicos da Juventude de Inverno, realizados em Gangow na Coreia do Sul, ao terminar no sexto lugar na mesma disciplina.

"É uma das provas no gelo onde nós temos mais contacto e é mais parecido com a modalidade que eu faço desde pequena, a patinagem de velocidade em rodas", descreve à Lusa.

Para quem não conhece, a jovem apresenta o mass start, rindo-se com a evidência das parecenças que a 'sua' disciplina tem com o ciclismo de pista.

"É uma prova de 10 voltas, em que existem dois sprints intermédios, e a última volta é a que decide quem ganha e quem perde. Os pontos intermédios [três, dois e um, respetivamente, para os três primeiros] servem mais para garantir a classificação, e quem passa na última volta em primeiro, segundo e terceiro é garantidamente pódio, porque o primeiro recebe 30 pontos, o segundo 20 e o primeiro 10 [no escalão júnior]", enumera.

Com o título mundial inscrito no currículo, a jovem regressou à Madeira para uma receção inesperada, que a deixou encantada.

"Como ia chegar à uma da manhã, não estava à espera que estivesse tanta gente. Adorei. As pessoas que eu queria que estivessem lá, estavam. Não pedia melhor do que aquilo", assumiu, confessando acreditar que os seus pais estejam "muito felizes", por terem sido eles os responsáveis por 'apresentar-lhe' a patinagem.

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