Maximiano Martins favorável a primárias no PS
Socialista teme que não haja tempo, se as eleições foram a 16 de Março. Diz que Paulo Cafôfo deve aceitar e destaca a necessidade de o PS de se reinventar
“É legítimo por quem entende que existe uma situação de debilidade e fragilidade no interior do PS e alguma tensão interna” a realização de eleições primárias no Partido Socialista, reagiu assim esta manhã Maximiano Martins ao pedido de Carlos Pereira para que Paulo Cafôfo abra espaço a uma disputa interna pela liderança antes da realização das próximas eleições legislativas. Este histórico socialista madeirense diz que Paulo Cafôfo deve aceitar e já o terá dito directamente ao líder actual. Teme é que o tempo seja demasiado curto, se a data para a eleição dos deputados à Assembleia Legislativa da Madeira for marcada por Marcelo Rebelo de Sousa para 16 de Março. Mas diz também que se o Presidente da República preferir clarificar a situação, não apenas no que se refere ao PS, mas também ao PSD, dará mais duas semanas além desse prazo. O ex-deputado fala ainda da importância “vital” do PS se reinventar.
O militante histórico lembra que a clarificação no seu partido pode ser feita através da convocação de um congresso antecipado, o que significaria recolher assinaturas e fazer a proposta e os órgãos directivos do PS aceitarem, o que está a ser tentado no PSD; ou a realização de primárias, aqui a acontece por decisão do líder. Numas primárias podem votar não só militantes, mas também simpatizantes do PS, pessoas sem filiação partidária neste ou noutros partidos.
Maximiano Martins recorda que a nível nacional o PS passou por uma situação semelhante, quando António Costa desafiou António José Seguro para umas primárias e ganhou. “O que se seguiu é conhecido, foram oito anos de poder que acabou mesmo com uma maioria absoluta”.
No entender do socialista madeirense, há o problema dos prazos, se a escolha de Marcelo Rebelo de Sousa for o 16 de Março, diz. “Mesmo que seja possível é tudo muito curto. Mas se o Presidente da República (…) se entender que a situação da Madeira, quer no PS, quer já agora no PSD - a do PSD era pública, era notória; a do PS já era conhecida mas não era tão pública e notória – se entender que do ponto de vista do interesse da democracia esta clarificação é útil, pode atrasar o suficiente, digamos duas semanas, o suficiente para que essa clarificação se faça e isso far-se-á na condição de a direcção do Partido Socialista, o seu presidente e os órgãos que ele controla (…), aceitarem o desafio”. “A minha opinião é que deve aceitar”, assumiu.
Maximiano Martins já terá transmitido à direção do PS que se a hipótese de primárias se colocasse seria favorável. O ex-deputado defende a realização de primárias porque diz que quem sair do processo, “se for bem organizado e controlado, evidentemente”, sai com uma força acrescida numa situação onde a unidade é a consequência natural. “Depois de um processo clarificador tão importante quanto umas eleições primárias, o dever de quem participa é estar com quem ganhou”.
Já à questão se Paulo Cafôfo deve sair para dar lugar a outro, Maximiano Martins prefere reservar a sua opinião. “Tem que ser um processo de consulta que responda se a liderança é confiável ou se não é confiável. Não tem muito interesse decisões e opiniões individuais”. Mas salvaguardou: “Evidente que a partir do momento que num próximo acto eleitoral o resultado volte a ser um resultado muito baixo, (…) que o PS não se afirme para a hipótese de alternância, claro que nesse caso a liderança tem que estar em causa”.
Se não houver tempo para primárias antes destas próximas eleições legislativas, Maximiano Martins defende que o PS deve tentar se unir, se mobilizar, “a unidade possível”. Se depois das eleições os resultados forem maus, impõe-se a realização de primárias ou de congresso, mesmo que a proximidade depois das eleições autárquicas possa se apresentar novamente como um problema. Mas aí, acredita que haverá pelo menos seis meses para construir essa alternativa, mesmo sem abertura por parte do actual líder. Segundo Maxiniano Martins, é possível recolher assinaturas e forçar um congresso. “Quem está com quem, isso logo se verá”, diz.
O socialista lembra que a Madeira está num momento histórico, o poder de 48 anos do PSD está fragilizado e é da maior importância no seu entender o aparecimento de uma alternativa credível para que se concretize a alternância partidária que nunca existiu ao nível regional em quase meio século. “Isto é uma oportunidade histórica, todos devem dar o contributo para essa oportunidade histórica se realize. E o todos significa todos os militantes do Partido Socialista e significa toda a oposição democrática. É uma responsabilidade que compete a todos, e do lado do PS, que cada um cumpra o seu papel e que exista boa vontade e boa-fé na atitude de cada um”, apelou.
Sobre o depois, Maximiano Martins acredita que o entendimento com o JPP, mas não só, é inevitável para uma maioria. “A possibilidade de acordos pós-eleitorais têm que estar em cima da mesa e podem não envolver apenas PS e JPP, pode ser alargada, centro-esquerda, centro-direita, dentro das forças democráticas. Eu vejo hipóteses de coligações governativas de forma interessante e bases interessantes para conversas, de novo, dentro da boa fé e da boa vontade, porque isso é essencial”.
Maximiano Martins sublinha ainda a necessidade de o PS se reinventar, “no sentido de apresentar propostas confiáveis, credíveis, lideranças que as pessoas acreditem”. No seu entender, se não for capaz disso, poderá correr o risco de desaparecer, como já aconteceu a partidos socialistas na Europa “Os partidos são instituições que nascem e morrem, também morrem. E se não tiver hipótese de reinventar, no sentido de reganhar credibilidade, apresentar propostas e resultados em eleições, morre como qualquer instituição ou ser vivo. E portanto, é verdadeiramente um desafio vital, vital”, alertou.