2024 no Ensino Superior: ano para recordar (ou esquecer?)
Entre avanços e recuos, 2024 foi um ano que testou a resiliência do ensino superior português
Como foi o ano de 2024 no Ensino Superior? O último episódio do Peço a Palavra trouxe-nos uma análise do panorama da Universidade da Madeira (UMa) e do setor em geral. Alerta: há razões para celebrar! Mas também as há para soltar um suspiro exasperado, dependendo do humor de quem ler o que se segue.
Uma ilha de excelência, ou apenas mais uma ilha? A UMa teve um desempenho notável no Concurso Nacional de Acesso, posicionando-se como a 4.ª instituição pública mais procurada pelos candidatos, como primeira opção. Com 1.501 novas inscrições e uma taxa de satisfação de 93% entre os finalistas, a universidade continua a demonstrar o seu valor. Nada mau para uma instituição que é frequentemente fustigada por maus ventos no financiamento ultraperiférico. Sejamos francos, porém. Enquanto a UMa se orgulha de ser a escolha de quase metade dos candidatos ao ensino superior na região, ainda não consegue acomodar a maioria dos estudantes que a colocam como primeira opção. Resumindo, muita procura, pouca oferta.
Há novas instalações do Politécnico, no edifício do antigo CITMA? Talvez seja melhor começarmos a chamá-lo de “edifício do amanhã”, visto ser sempre “amanhã” que as obras começam. E das residências universitárias? Dava uma trilogia. No que toca a atrasos, os das residências já merecem novo enredo. Já arrancaram, depois de muito penar, as obras de remodelação da Residência Nossa Senhora das Vitórias. Estamos, porém, longe das estreias das novas residências na rua da Carreira e na Quinta de São Roque. O plano é ambicioso – mais 200 camas para estudantes. Por ora, esperamos com esperança.
Passando para algumas novidades curriculares, a proposta de uma licenciatura em Ciências e Tecnologias do Mar promete trazer frescura à oferta da UMa. Biologia marinha e oceanografia combinadas? Parece fascinante, especialmente para uma região que vive cercada pelo Atlântico. Antes , há que passar pelo crivo da A3ES e, até lá, resta-nos imaginar como será ouvir falar de correntes marítimas e plâncton... em inglês.
E sobre o novo RJIES, teremos maior autonomia ou mais burocracia? O governo decidiu dar um empurrãozinho às instituições de ensino superior, propondo alterações ao Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES). Entre as mudanças, estão a ampliação da autonomia, consórcios entre universidades e até um novo modelo para a eleição de reitores. Parece promissor. Contudo, a ideia de envolver antigos estudantes na escolha do reitor pode causar calafrios em quem acredita que o corpo docente é o único com competência para gestão de uma universidade. E sobre o corpo docente, que dizer do combate da endogamia académica, isto é do fenómeno das universidades preferirem contratar antigos estudantes, em vez de beneficiar do conhecimento trazido por especialistas formados noutras instituições? A proposta de limitar o recrutamento de doutorados pelas instituições onde concluíram o grau em nada surpreendeu os céticos. Talvez esteja na hora de reconhecermos que não basta restringir, é preciso criar oportunidades para as instituições apostarem na diversidade dos seus quadros. Afinal, o problema é tanto de quem contrata, como de onde há oportunidade para contratar.
Entre avanços e recuos, 2024 foi um ano que testou a resiliência do ensino superior português. Para a UMa, foi um ano de crescimento, reconhecimento e, claro, de desafios. Enquanto se debate o futuro da profissão docente e o financiamento insuficiente no ensino superior, talvez o melhor conselho seja não perder o sentido de humor, até porque, no ensino superior, a única certeza é a incerteza. Entramos em 2025 com sonhos grandes, desafios maiores e a expectativa de que as mudanças no ensino superior venham, finalmente, equilibrar o talento e oportunidade que há tanto são prometidos.