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Antiga Quinta Jardins do Imperador ou do Monte foi consumida pelas chamas do grande incêndios de 2016. 
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Museu do Romantismo conta já com mais de 200 peças

Até ao momento, o investimento do Governo Regional neste novo espaço museológico que deverá abrir portas este ano ascende aos 4,1 milhões de euros

O projecto traçado para a Quinta Jardins do Imperador, que já foi Quinta do Monte, sofreu um grande revés com a devastação causada naquela infra-estrutura pelo grande incêndio de 2016.

Com data de abertura prevista para este ano de 2025, depois de sucessivos adiamentos, o Museu do Romantismo, que está a ser concretizado na antiga Quinta Jardins do Imperador, na freguesia do Monte, conta já com mais de 200 peças para o seu recheio, doadas ou adquiridas, num valor de aquisição por parte do Governo Regional, através da Secretaria Regional de Economia, Turismo e Cultura, que ascende aos 793 mil euros.

No total, o organismo tutelado por Eduardo Jesus já despendeu 4,1 milhões de euros neste projecto. A maior parcela cabe às obras de remodelação da antiga quinta, com um total, até à data, de 3,3 milhões de euros. O resto do dinheiro já gasto foi aplicado na aquisição de peças de mobiliário ou de arte para compor o espólio deste espaço que tem sido incluído nos vários Programas de Governo dos executivos de Miguel Albuquerque.

Só este ano, já foram fechadas quatro aquisições, cujos contratos ultrapassam dos 198 mil euros.

Nesse conjunto incluem-se, entre outras peças, conforme fez saber a tutela, na passada segunda-feira, em resposta ao pedido do DIÁRIO datado do final da semana anterior, várias pinturas de época (do século XVII ao século XIX); dois criados-mudos, um de duas e outro de três prateleiras em mogno, datáveis de finais do século XVIII; um aquário em porcelana da China; um contador Namban; apliques de parede e lustre datáveis de meados do século XIX; um candeeiro com vidro opalino; várias peças de sentido funcional como os metais de frente de fogão de sala, assim como o fogão de cozinha; mesa em til e outras madeiras; um aparador e cantoneira George Hepplewhite; um conjunto de gravuras originais da autoria do reverendo James Bulwer; um conjunto de tapetes persas e caucasianos e um conjunto de passadeiras persas; uma mesa inglesa de abas e uma sofá table inglesa em mogno; uma gravura original de finais do século XVIII ‘Vue Du Funchal’; bem como uma caixa faqueiro inglesa, em madeira de pau de cetim (‘satinwood’) com embutidos em pau santo e aplicações em prata.

Estamos a realizar com algum cuidado, porque estas obras de recuperação são obras essencialmente manuais. O recheio está a cargo do Dr. Francisco Clode, que tem feito um conjunto de aquisições para o enriquecimento do espólio e temos ainda os jardins para recuperar. Penso que no princípio do próximo ano, se tudo correr como nós esperamos, podemos abrir ao público. Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, em Outubro de 2024

A par das peças mais recentemente adquiridas, o futuro museu contará, também, com outras peças do espólio do Executivo madeirense, bem como com cerca de 140 peças que estão, por via do depósito temporário, na posse do Governo Regional, onde se incluem alguns serviços de cerâmicas. 

Conforme esclarece a mesma fonte, “a museologia do Museu deverá seja baseada no conceito da reconstituição de uma grande casa ou quinta madeirense do século XIX, com todas as suas valências, funcionais e estéticas, muito próximas ao gosto inglês, então dominante, e na origem da própria casa, e de uma estética desenvolvida pelos designados Wine Merchants, assim como da arte no tempo do Madeira Wine Trade”.

E é essa a linha que já se perfila nas aquisições já concretizadas, procurando criar um ambiente decorativo de época, incluindo o de uma sala, da casa de jantar, dos quartos de dormir ou mesmo da cozinha, traduzindo, assim, o gosto madeirense do século XIX, muito influenciado pela comunidade inglesa, com espécies cronológicas do século XVIII e XIX. 

A primeira aquisição de obras de arte feita pela Governo Regional para este novo museu data de Janeiro de 2017. Na altura foram comprados vários quadros à empresa Renascimento - Avaliações e Leilões, no valor de 171 mil euros, o montante mais elevado, até ao momento, alocado a uma única aquisição para este fim.

Na lista de outros ‘fornecedores’ de peças para o futuro Museu do Romantismo entram, também, algumas empresas regionais, como Fernanda & Gonzaga Drumond, Lda; João Welch; Jorge Welsh Works of Art, Lda; entre outras.

No que toca às obras de reconstrução, tem sido a empresa Socicorreia a ganhar os concursos lançados. Foi assim com o principal contrato neste âmbito, no valor de praticamente três milhões de euros, com data de Setembro de 2021. A intervenção foi complementada com um novo contrato em 2023, no valor de 195 mil euros, cujo procedimento foi concretizado por consulta prévia.

Projecto lançado em 2015

A recuperação da então Quinta Jardins do Imperador foi apontada pelo Governo Regional em Março de 2015, tendo como finalidade a instalação do Museu do Romantismo que o recém empossado executivo de Miguel Albuquerque apontava como uma das suas grandes propostas na área da Cultura. O imóvel, que fora adquirido pela Região em 1982, onde era pretendido instalar a Universidade da Madeira, passaria de novo para a gestão pública, depois de uma atribulada concessão a privados.

O contrato de concessão datado de 2003 previa a reconstrulão e a exploração da à data designada de Quinta do Monte, assentando, sobretudo, na recuperação das áreas ajardinadas. Porque não foram cumpridos todos os aspectos contratualizados, o contrato acabaria revogado, tendo o Governo Regional recorrido, inclusive, à justiça para reverter a situação. Pelos trabalhos realizados pelos arrendatários, foi sentenciado o pagamento de 826 mil euros pela Região. 

"Vamos assumir a gestão e a ideia será, no edifício principal, fazermos um núcleo do Romantismo que é da natureza intrínseca do Monte e onde vamos fazer uma evocação de algumas personalidades que visitaram a Madeira e, também, do próprio Imperador Carlos da Áustria”, dizia o novíssimo presidente do Governo Regional na altura. 

Em Outubro do ano passado, Miguel Albuquerque dava conta de que "o edifício está [estava] a ser reabilitado", afirmando que o mesmo estava "a ficar magnífico", relembrando que o espaço museológico teria uma ala dedicada à presença do Imperador Carlos da Aústria na Madeira. Na ocasião, dizia também que as obras, "se tudo correr bem", estariam concluídas no início deste ano.

Portanto, a recuperação estará em fase de conclusão, embora já em Março de 2023 o Governo Regional apontasse que os trabalhos estariam praticamente concluídos. Uma nota então enviada pela Presidência dava conta de que a empreitada estaria a decorrer  "a um bom ritmo, estando a execução da casa principal, futuro museu, e a antiga cavalariça, futuro espaço dos serviços educativos e biblioteca, a aproximadamente 50% de execução".

Nessa ocasião era referido que os trabalhos na portaria e loja, armazéns de apoio aos jardineiros e funcionários do museu, torre Malakoff, muros limítrofes, novos caminhos em pedra escassilhada, rede de incêndios e iluminação exterior já estariam praticamente concluídos. 

O investimento então apontado para 3,8 milhões de euros, entretanto já ultrapassado, contava com 3,2 milhões de euros vindos da Europa, através do FEDER.

Na casa principal serão instalados os espaços de exposição do museu, os gabinetes, as reservas, os arrumos e uma cafetaria com esplanada coberta. As demais construções serão adaptadas às necessidades decorrestes da nova utilização. A Casa do Caseiro deverá funcionar como Portaria, loja e central de segurança; na Torre Malakoff ficará uma cafetaria com esplanada; na Cavalariça serão incluidos os serviços educativos e uma biblioteca; no antigo Armazém ficarão os balneários do pessoal de jardinagem e do museu, um efeitório e um armazém. Já foi providenciada a recuperação dos caminhos em calçada e terra, bem como a recuperação e reforço de muros e muretes. Foram colocados gradeamentos, reparados os portões e recuperados os canais, lagos e fontes.