DNOTICIAS.PT
Mundo

Encontros com Trump e Biden reforçam papel de Meloni nas relações UE-EUA

Foto EPA/FILIPPO ATTILI/CHIGI PALACE PRESS OFFICE
Foto EPA/FILIPPO ATTILI/CHIGI PALACE PRESS OFFICE

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, recebe esta semana o Presidente norte-americano, Joe Biden, após encontrar-se com o sucessor deste, Donald Trump, levando vários responsáveis do seu partido e a imprensa conservadora a louvarem o protagonismo internacional do país.

A líder do partido pós-fascista Irmãos de Itália, que há mais de dois anos encabeça um governo de coligação de direita e extrema-direita, e que tem vindo a ser apontada como grande candidata a ser a interlocutora por excelência da nova administração norte-americana na Europa, reforça no início de 2025 essa imagem, que o seu núcleo próximo se tem esforçado por transmitir, ao ter sido recebida em Mar-a-Lago por Trump, poucos dias antes de receber Biden em Roma.

Os dois encontros, no espaço de poucos dias -- Meloni efetuou a viagem-relâmpago aos Estados Unidos no passado sábado, e na quinta-feira Biden chega a Roma -, são particularmente significativos em termos diplomáticos, com vários responsáveis dos Irmãos de Itália e a imprensa mais conservadora a realçarem o protagonismo de Itália na cena internacional e, mais concretamente, nas relações transatlânticas, aproveitando também o 'vazio' de poder que se verifica atualmente na Alemanha e em França.

Em vésperas da mudança de poder em Washington, agendada para 20 de janeiro, Meloni será 'anfitriã' de Biden na última viagem oficial que este realiza ao estrangeiro enquanto Presidente, menos de uma semana após ter sido recebida pelo futuro Presidente na sua residência em Mar-a-Lago, com Trump a voltar a elogiar a dirigente italiana, que classificou como "uma mulher fantástica", que "conquistou a Europa".

Após a reunião de cerca de cinco horas em Mar-a-Lago, vários responsáveis do partido dirigido por Meloni enfatizaram o que consideram como uma grande vitória da diplomacia italiana, com o deputado Emanuele Loperfido a comentar que o encontro, "na presença da comitiva que irá liderar a superpotência norte-americana nos próximos quatro anos, certifica o prestígio internacional absoluto alcançado pela primeira-ministra", que, na sua opinião, reforça o papel de "interlocutora privilegiada dos EUA, afirmando a autoridade e a proeminência da Itália como poucas vezes na sua história".

Também o líder do grupo Irmãos de Itália na Câmara dos Deputados, Galeazzo Bignami, comentou que "a disponibilidade de Trump para receber Meloni na sua residência, entre os primeiros chefes de Estado e de Governo de outros países, e as palavras que lhe reservou, confirmam o papel fundamental" da primeira-ministra, que "contrariou as previsões daqueles que falavam do isolamento da Itália" e está a conduzir o país "de cabeça erguida, colocando-o cada vez mais como protagonista a nível internacional".

A mesma opinião tem o jornal conservador independente Il Giornale, segundo o qual "não se via uma Itália tão central no jogo diplomático desde o [Silvio] Berlusconi da Pratica di Mare", numa alusão à cimeira organizada em 2002 pelo antigo magnata e primeiro-ministro italiano (entretanto falecido), naquela localidade perto de Roma, na qual logrou um aperto de mão entre os Presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, perante vários líderes da NATO, no que foi entendido à época como o fim da 'guerra fria' entretanto reacendida com a agressão russa à Ucrânia e o apoio do Ocidente a Kiev.

Também o jornal Libero Quotidiano, de direita, classifica "a visita-relâmpago de Giorgia Meloni à Florida" como "um golpe diplomático e de comunicação", notando que "Donald Trump recebeu a primeira-ministra com a atenção reservada a um aliado-chave" e acompanhado dos "pontas-de-lança da nova administração, sinal de que não se tratou apenas de uma troca de cortesias, mas de um primeiro contacto com aqueles que vão acompanhar os dossiês da política externa (Marco Rubio), dos serviços secretos e da defesa (Mike Waltz), da política económica (Scott Bessent) e das relações diplomáticas entre Washington e Roma (Tilman Fertitta, embaixador em Roma)".

"O governo MAGA (Make America Great Again, movimento liderado por Trump) está ansioso por trabalhar com o Palazzo Chigi [sede do Governo italiano, em Roma], e a primeira-ministra já é uma referência, aos olhos" do próximo Presidente norte-americano, considera o jornal, que considera assim um sucesso o "'blitz' na Florida" antes da visita de Biden a Itália.

A aparente grande proximidade de Meloni à nova administração norte-americana também lhe tem valido, no entanto, críticas a nível interno, com a oposição a deplorar nomeadamente os estreitos laços da primeira-ministra com o magnata Elon Musk, figura muito próxima de Trump e que fará parte da nova administração.

Além de apontarem um potencial conflito sobre os laços entre Meloni e Musk -- ambos encontraram-se por diversas vezes nos últimos meses -, dado o magnata ter interesses económicos privados em Itália, os oponentes da primeira-ministra mostram-se agora indignados com as notícias que dão conta de negociações muito avançadas entre Roma e a empresa SpaceX, de Musk, para a celebração de um contrato de fornecimento de telecomunicações seguras (uma gama completa de encriptação de alto nível para os serviços telefónicos e de internet) ao Estado italiano, no valor de 1,5 mil milhões de euros.

A generalidade dos partidos da oposição acusa Meloni de pôr em risco a segurança nacional ao entregar a gestão da segurança das telecomunicações do governo ao sistema de satélites Starlink de Musk, por um "preço baixo", e exige que o Governo dê esclarecimentos urgentes e com toda a transparência sobre as conversações em curso.

"Se 1,5 mil milhões de euros do dinheiro dos italianos para utilizar os satélites do bilionário americano no nosso país é o preço a pagar pela sua amizade, não estamos de acordo", comentou a líder do Partido Democrático (PD, centro-esquerda, principal partido da oposição), Elly Schlein.