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2025 – Princípios para uma vida boa

A chegada de um novo ano é sempre um convite coletivo para reconsiderar o que nos trouxe até aqui e projetar um futuro mais pleno e significativo. Não existe uma fórmula universal, para uma vida feliz, mas há princípios e perspectivas, extraídas de várias áreas do saber, que podem servir de guia num mundo cada vez mais complexo e interconectado.

A psicologia oferece-nos a perspetiva de que as emoções positivas, resiliência e bem-estar estão intimamente ligados a como interpretamos os acontecimentos, gerimos o stress e cultivamos hábitos saudáveis. A felicidade não é a ausência de problemas, mas a capacidade de lidar com eles de forma construtiva. Isso implica aprender a gerir a ansiedade, a cuidar da mente e do corpo, desenvolver estratégias de autocuidado e a manter um diálogo interno mais compassivo. Os psicólogos positivos enfatizam a importância da celebração das pequenas alegrias e conquistas, e da gratidão: treinar a mente para reconhecer o que já temos e o que alcançámos, pois muitas vezes armadilhamo-nos no caminho contrário. Há também a relevância de encontrar um propósito que nos mova— pode ser profissional, um passatempo, familiar, artístico, espiritual -, espelhado no conceito japonês de Ikigai. Ao entrarmos no novo ano, podemos refletir: estou a encontrar objetivos que me desafiem de forma saudável? O que me motiva a levantar todos os dias e, mesmo cansado, continuar a avançar? O que me dá prazer, absorve-me positivamente, e realizo sem esforço e sem precisar de aprovação dos outros?

O nosso equilíbrio depende também, em grande medida, da nossa capacidade de estabelecer vínculos autênticos, de criar redes de solidariedade e de encontrar um lugar onde a nossa identidade seja respeitada e valorizada. Assim, ao entrarmos num novo ano, podemos perguntar-nos: estou rodeado de pessoas com quem genuinamente me importo, e isto é recíproco? De que forma, no meu dia a dia, contribuo para um comunidade onde as pessoas se apoiam mutuamente?

A filosofia, por sua vez, há milénios que debate o que constitui uma vida boa. Desde Aristóteles e o conceito de eudaimonia, até pensadores mais recentes, encontramos a ideia de que a felicidade não se resume à busca do prazer efémero, mas está ligada à virtude, ao crescimento moral e à coerência interna. Uma vida feliz exige reflexão, e principalmente a ação intencional sobre o que valorizamos, o que nos torna melhores pessoas e o que nos dá sentido. Questionemo-nos, neste novo ciclo: estou a viver de acordo com que valores? Sou coerente entre o que afirmo e penso, e as ações que empreendo?

Há um ideal filosófico japonês, Wabi-Sabi, que postula que o belo não está na perfeição e na sua busca por vezes opressiva, mas na aceitação e contemplação da incerteza, imperfeição e mudança, pois não é possível ignorar que a existência e a natureza são marcadas por estas. A felicidade não é um ideal estático, mas está presente no dinamismo de aprender com as situações, ajustar rumos, aceitar o que não podemos alterar e agir sobre o que está ao nosso alcance, com persistência e esperança. Teremos dias bons e dias difíceis, é uma lei universal a que ninguém escapa, e isto não significa fracasso, mas sim humanidade.

Para 2025, um convite comum: desacelerar. Num mundo apressado e hiperconectado, um dos maiores desafios é gerir excessos — de informação, de consumismo/materialismo, de comparação. Desconectar-se mais das redes sociais pode trazer maior tranquilidade e atenção ao que realmente importa. Retomar a simplicidade, estar com a mente mais presente no aqui e no agora, contemplar a natureza, ler, abraçar o silêncio, nutrir relacionamentos profundos e exercitá-los mais amplamente, através de ações de cidadania e ajuda ao próximo, são tarefas para manter um equilíbrio emocional saudável. Quando sentimos que contribuímos ou fazemos parte de algo maior, a vida ganha outro significado.