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Psicologia Organizacional ou do Trabalho (precisa-se urgentemente)

Há anos escrevi sobre o assunto em epígrafe e, por isso o meu ‘flyer’ de apresentação intitula-se “Pessoas Felizes, Empresas de Sucesso”.

Com outra roupagem reedito-o por duas razões. Há duas semanas realizou-se o congresso dos psicólogos madeirenses, (infelizmente não pude estar presente). Ainda esta semana esteve na nossa ilha a candidata a bastonária dos psicólogos portugueses, estava a sala quase vazia.

Algum tempo atrás abordei o representante da ordem dos psicólogos sobre o porquê de nunca incluir a psicologia do trabalho nas conferências da mesma. Fiquei estupefacto com a resposta: “Ainda não existem muitos, aqui na Madeira”. É que eu existo e resido aqui há 35 anos e, mais importante é que a economia nunca, pode parar e, a Psicologia Organizacional também não.

Segundo, porque existe uma iliteracia enorme sobre o que é a Psicologia do Trabalho, bem como o papel e as funções que um psicólogo pode ter numa empresa.

A corroborar o que acabo de referir eis dois exemplos: um vereador da nossa CMF e empresário perguntou-me: “Afinal o que faz um psicólogo numa empresa? Diga-me? O que é que você poderia fazer na minha empresa?”

Outro empreendedor afirmou: “Tenho lá dois ou três (se não forem mais) que precisam mesmo de tratamento”. Caso para perguntar: quem os admitiu?

Esta clinicalização, sim a ideia deturpada e redutora por ignorância, penso eu, claro que as questões e o bem-estar das pessoas das nossas empresas são cruciais e constituem o foco da psicologia organizacional, mas a intervenção numa empresa não se pode resumir a questões pontuais como o atenuar o stress, o assédio sexual, o burnout, etc, ou mesmo a higiene e segurança no trabalho, que os psicólogos organizacionais pelo ISPA têm conhecimento alargado em ergonomia, mas, existe a ideia generalizada que o papel do psicólogo do trabalho é semelhante a de um técnico de saúde, que é colocado numa instituição para tratar dos problemas das pessoas. Nada, mas nada mais incorrecto.

Pertenci durante 12 anos, em Lisboa, a uma empresa exigente de consultoria e formação. Cada elemento daquela empresa tinha de estar 24 horas disponível. Éramos 23 pessoas, unidas, positivas, entusiastas, disponíveis, amigas, que se preocupavam com o desenvolvimento dos demais.

A vida nas e das organizações tem a ver com uma gestão integrada de Recursos Humanos.

Outra razão para reescrever este artigo é tentar esclarecer o que é a psicologia organizacional, bem como o papel de um psicólogo do trabalho.

A Psicologia Organizacional visa intervir numa instituição ou empresa para as tornar rentáveis e produtivas. Para isso precisa analisar toda uma empresa, o seu sector de actividade, o meio envolvente, o seu público alvo, os seus fornecedores os seus clientes actuais e também os potenciais, bem como os seus objectivos e estratégias futuras mas, repito, acima de tudo, conhecer “todas as pessoas”, os seus quadros internos, independentemente das suas funções e hierarquias.

Porquê?

Simplesmente porque as pessoas são o capital mais valioso de qualquer empresa ou instituição! Por isso, o nosso trabalho é realizado com elas, repito com elas e, sobretudo para elas, as pessoas.

E qual é o papel de um Psicólogo Organizacional ou do Trabalho?

Existem duas grandes vertentes, de actuação: uma de caracter técnico e outra, quiçá a mais importante, tem a ver com as variáveis dinamizadoras do comportamento humano. Por essa razão, o psicólogo numa empresa deve primeiro criar um clima de confiança generalizado, porque sem o qual não é possível intervir positivamente.

Depois, porque as pessoas são os impulsionadores do sucesso empresarial e é extremamente importante conhece-las, no seu melhor, nos aspetos menos bons, nas variáveis a melhorar e, principalmente no seu potencial de desenvolvimento.

Para tal, investiga, recolhe informação, diagnostica para posteriormente poder intervir junto das mesmas, melhorando-as e estimulando todo o seu potencial alinhando-as com os objectivos empresariais.

A terceira fase da actuação de um psicólogo empresarial é intervir, o que significa proporcionar os meios mais adequados e necessários para gerir os RH, ou seja, os integrar, e desenvolver.

Posso estar equivocado, mas tenho a sensação que em muitos departamentos de RH, (para não falar na função pública), em pleno século 21, nada mais se faz do que tarefas inerentes para processamento de salários… não será verdade?

Eis algumas de carácter mais técnico: seleção e recrutamento (sabiam que existem três ou 4 variáveis chave que se forem detectadas resolvem 90% de possíveis problemas futuros?).

A integração, e o acompanhamento de novos colaboradores, a avaliação de desempenho, o levantamento de reais necessidades de formação, a ministração e monitorização das mesmas, bem como dos seus resultados, bem como ajudar na implementação de uma cultura de desenvolvimento constantes e, com isto criação de valor, desenvolvimento e, consequentemente de realização profissional e pessoal.

Neste processo evolutivo inclui a melhoria e o treino de uma comunicação positiva, afim de ser criado um ambiente de confiança e bem-estar.

Fazer com que as pessoas adquiram um verdadeiro sentido de pertença por um lado e, de entreajuda, sejam e estejam disponíveis e tenham um autêntico espírito de equipe, constitui outro resultado a atingir.

Mas sublinhava um: A importância das pessoas adquirirem uma atitude mental positiva.

Deve iniciar-se com as chefias, (os agora ceos, gestores e chefias sectoriais), pois como diz o ditado “o exemplo deve vir sempre de cima”, pois são ele(a)s os principais dinamizadores de todos os seus colaboradores e, equipes? Não é verdade?

Porque a economia é o principal factor de desenvolvimento de qualquer país ou sociedade, o que só pode acontecer com empresas bem geridas, a colocação de Psicólogos Organizacionais ou do Trabalho nos departamentos de RH, torna-se mesmo um imperativo e uma necessidade urgentes.

Daí o título do meu ‘flyer’ escrito em 1998, que se intitula: “Pessoas Felizes Empresas de Sucesso”. Não é isso que desejamos que as nossas empresas o sejam e que o nosso país economicamente cresça?

Eu sou o João Miguel, licenciado em Psicologia Organizacional pelo ISPA, fui o responsável por este simples artigo e espero ter atingido o seu propósito, esclarecer!