Hospitais da Região esgotaram capacidade de internamento
O director clínico do SESARAM constata a dificuldade sentida pelos serviços de saúde em ter camas disponíveis para doentes agudos. As 'altas problemáticas' são apontadas como um dos maiores constrangimentos
Júlio Nóbrega garante que maior procura pelos serviços de saúde ainda não levaram ao cancelamento de cirurgias por falta de camas.
Os hospitais públicos da Região já esgotaram a sua capacidade de internamento. Isso mesmo notou do director clínico do Serviço de Saúde da Região (SESARAM) no início da tarde de hoje.
Júlio Nóbrega voltou a confirmar a maior afluência de doentes, que tem sido uma constante nos últimos dias, registando alguns picos de procura, de certa forma relacionada com o aumento das infecções respiratórias habituais nesta altura do ano. O facto de algumas dessas situações assumirem alguma gravidade, quer por comorbilidades existentes, quer pela idade mais avançada dos doentes e, consequentemente, maior fragilidade da sua condição, tem levado uma maior necessidade de internamento para tratamento mais adequado.
Para o esgotamento da capacidade de internamento do SESARAM contribuem, também, as "situações sociais" ou 'altas problemáticas'. Durante a manhã desta terça-feira, conforme apontou aquele responsável aos jornalistas, eram 218 os utentes com alta clínica que permaneciam internados no Hospital dos Marmeleiros e no Hospital Dr. Nélio Mendonça. Ontem, esse número estava nos 232 utentes. De fora destas contas ficam todos os restantes doentes que estão internados noutras unidades sem internamento de agudos, como em São Vicente, em Santana, no Hospital João de Almada ou noutros centros de saúde com capacidade de internamento.
"Isto limita a nossa capacidade de internamento e faz com que um doente que venha ao Serviço de Urgência e tenha indicação de internamento tem de aguardar vaga", notou o director clínico, esclarecendo que é um facto de que alguns desses doentes esperam por cama no corredor da Urgência. "Isto vai acontecendo diariamente", constata, apontando como 60 o máximo de doentes nestas condições nas últimas semanas.
Ainda assim, Júlio Nóbrega recusa falar em caos. Salienta que embora continuem a existir algumas macas nos corredores do Serviço de Urgência, não há desorganização, como pressupõe uma situação caótica. "Temos uma afluência de doentes expactável para a época", referindo-se aos 361 doentes atendidos na Urgência do hospital no dia de ontem, reforçando que o problema reside na falta de camas disponíveis para internamento.
O médico voltou a recomendar a vacinação contra a gripe, mesmo nesta altura em que a campanha já conta com mais de três meses no terreno, pois a vacina poderá evitar a doença e diminuir a sua severidade.
Maior procura ainda não fez cancelar cirurgias
Júlio Nóbrega garante que maior procura pelos serviços de saúde nesta altura do ano ainda não levaram ao cancelamento de cirurgias por falta de camas, ainda assim, reconhece que, em situações limite, tal poderá conduzir ao cancelamento de operações programadas, que não tenham carácter de urgência.
Para já, o director clínico do SESARAM prefere apelar às famílias para que acolham no seu domicílio os utentes que permanecem internados mesmo depois de terem alta clínica, sobretudo os que mantêm as mesmas condições físicas anteriores ao internamento, pois estão, desta forma, a condicionar o tratamento de outras pessoas em situação de doença aguda.
O médico lembra que em Novembro de 2021, após uma reorganização dos serviços, o SESARAM tinha apenas 16 altas clínicas, mas as situações foram se acumulando, chegando aos actuais 218 casos. "Este é um problema que se arrasta" e que tem "implicações importantes na prestação dos cuidados", sustenta aquele responsável, falando no caso de doentes que estão há pelo menos três dias no corredor do Serviço de Urgência a aguardar por uma cama para internamento.
A colaboração, não só das famílias, mas também da Segurança Social é, por isso, fundamental "para nós podermos libertar camas para receber doentes agudos", diz Júlio Nóbrega.