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Uma democracia indiferente

Todos os dias vemos como a democracia desconsidera necessidades básicas das populações. O poder político manifesta-se indiferente, como se fosse incapaz de responder às demandas dos mais pobres, às suas justas solicitações. E a indiferença da democracia em relação às necessidades essenciais das populações gera maior indiferença das populações em relação à democracia. Quem atrai indiferença colhe indiferença.

Os obstáculos ao direito à habitação são um dos exemplos mais claros do que é uma democracia indiferente. O clamor populacional que, por toda a parte se levanta, parece ser disso uma prova insofismável. O mesmo se poderá dizer em relação às listas de espera no acesso a cuidados de saúde, sobre a destruição de serviços públicos, no criminoso desmantelamento de serviços públicos de proximidade.

A indiferença da democracia em relação às pessoas e aos seus problemas e, em especial, a desconsideração dos dramas sociais, enfraquecem as sociedades e desacreditam o ideal democrático.

Agrava-se o estado de uma democracia indiferente na relação direta com o não respeito dos direitos fundamentais de todos os que estão em estado de pobreza e de exclusão social. Deteriora-se a democracia indiferente na medida em que minorias poderosas exercem o poder político na defesa das suas castas, regalias e privilégios. Assim se instala uma verdadeira farsa da democracia, porque não faz mais do que fortalecer os que já usufruem de privilégios.

A prática democrática está concebida à imagem e ao gosto das camadas sociais que mais possuem. E o que as sociedades de hoje mais oferecem é o espetáculo de uma acumulação ilimitada do capital económico com a correspondente crescente privação de largos segmentos da população. Cristaliza-se a monopolização das vantagens do dinheiro, do poder e da educação. Por consequência, as profundas desigualdades são acrescidas de novas diferenciações configuradas sob a forma de exclusão social.

Com esta erosão da democracia alimenta-se, acima de tudo, a desigualdade, distanciando-nos de qualquer meta de justiça social ou de um certo sentido da equidade de condições sociais. Deste modo, o fosso existente entre a democracia social e a democracia política não tem sido colmatado, de forma a poderem ser criadas as condições para a elevação da qualidade da democracia.

Neste quadro, a atividade política tende a assumir um carácter de irrealidade. Os chamados “políticos” vivem dissociados dos que os rodeiam. Aquilo a que genericamente é classificado como o desfasamento entre “os políticos” e a população, entre o poder político e o povo.

A democracia debate-se com estas antinomias e confronta-se com estas contradições.

Conseguiremos travar essa engrenagem de indiferença?