Nunca é tarde
2024 não me deixou saudades. Sem dores de corpo, mas com algumas dores da alma, lágrimas e sofrimento polvilharam alguns dos meus dias. 2025 traz-nos mais 365 oportunidades que poderão ser aproveitadas ou, talvez, perdidas se não tivermos o propósito e a possibilidade de mudar para melhor. Só por si, a mudança de ano não fará qualquer diferença.
Não gostaria de iniciar o novo ano com lamúrias e reclamações, mas as circunstâncias a isso me obrigam. Ninguém me passou procuração nem de ninguém me auto-nomeei advogada de defesa, pese embora a causa que defendo não seja apenas minha.
Sabendo que o “tradicional” livro de reclamações se remete, invariavelmente, ao silêncio, pode ser que expondo publicamente a situação haja alguma possibilidade de chegar a uma solução satisfatória para todas as partes, sem prejuízo de nenhuma.
O assunto que levou à redacção desta carta é demasiado sério e não deve ser escamoteado por quem de direito. Refiro-me concretamente à deslocação de doentes oncológicos do Porto Santo para o Funchal, utentes do SRS, em tratamentos ou consultas da especialidade. Cada deslocação implica alguma logística que, não sendo complicada, também não é fácil. Nem para os utentes, nem para quem está incumbido de a organizar, presumo.
Há muita burocracia envolvida que, na era digital e na era da IA (inteligência artificial) seria perfeitamente dispensável. Os “papelinhos” exigidos estão na ordem do dia. É declaração para isto e para aquilo, para justificar o que está mais do que justificado. A prioridade não é a comodidade nem o bem-estar do doente, mas as “continhas” a bater certo e com a menor despesa possível.
Seria de muito mau tom não reconhecer e agradecer o apoio facultado pelo SESARAM a estes doentes e respectivos acompanhantes, em termos de transportes, alojamento e alimentação, pois a maior parte deles não teria possibilidade de tratar-se a expensas próprias.
Há, no entanto, alguns aspectos que carecem de melhoramentos. Começando por reduzir a burocracia exigida a cada deslocação; permitindo que quem está doente não tenha apenas uma refeição diária; que quem não se sente bem ao viajar de avião o possa fazer de barco, sem constrangimentos e sem apresentação de um atestado psiquiátrico a comprovar essa vulnerabilidade, etc, etc.; que ninguém tenha de correr de malas e bagagem, do aeroporto para o hospital ou do hospital para o aeroporto, com o coração e a mala carregados de angústia e ansiedade, apenas para poupar uma diária no alojamento...
Os doentes do Porto Santo não são melhores nem têm mais direitos do que os outros doentes da RAM, dirão alguns. É verdade. Mas os doentes do Porto Santo não têm a possibilidade de fazer os seus tratamentos ou consultas e regressar à sua habitação no mesmo dia. Aliás, nunca a terão, mesmo depois de concluída a nova Unidade de Saúde em construção. Infelizmente. Por isso, há que conjugar esforços e agilizar procedimentos para minimizar o sofrimento destas pessoas, que já são mais do que o desejável. A carga emocional e as fragilidades que carregam, inerentes à sua doença, já é martírio mais do que suficiente.
Nunca é tarde, mas mais vale tarde do que nunca!
Que 2025 seja pródigo em saúde para todos!
Madalena Castro