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Crónicas

Porto (Santo) de abrigo

Quis o destino que os meus últimos dias do ano fossem marcados pelo meu regresso à ilha de Porto Santo. Sensivelmente cinco anos após a minha última visita. A convite de uns amigos fui então com natural expectativa, não fosse este um local que me traz tão boas memórias. No final do ano gosto sempre de procurar a minha paz e tranquilidade. Aproveito para refletir sobre o ano que passou, o que fiz de melhor e de menos bom, o que posso melhorar e resolver mas também para desenhar alguns planos e projectos, para projetá-los no futuro, equacionar caminhos, tomar decisões e ir com tudo para cima delas. É por isso uma fase de especial introspeção, onde me procuro e me encontro. Talvez por isso estes últimos dias do ano, sejam propícios para passar com amigos (poucos) ou mesmo sozinho. Quando fui convidado, não hesitei por isso, em dizer que sim. A ilha Dourada é o local perfeito para passar uns dias de descanso, com paisagens dignas de postal e o mar como companhia. Mesmo que infelizmente alguns locais emblemáticos estejam fechados como o maravilhoso restaurante Torres da simpática Rafaela (aquele polvo…) ou as famosas lambecas.

E de facto como seria de esperar, não desiludiu. A dicotomia sol/chuva faz-nos percorrer as diversas estações do ano num só dia, mesmo que o clima permaneça sempre ameno e me fizesse deixar as camisolas de gola alta em Lisboa. Por ali o frio nunca é dilacerante como no continente e isso permite-nos andar apenas de t-shirt enquanto o sol não se põe. O Inverno por estes lados (ainda) chama pouca gente, talvez porque (erradamente) se pense que não há nada para fazer. Os vales e as montanhas por descobrir, as grutas misteriosas e os picos com fantásticas vistas, o areal que se mantém brilhante e imponente e a temperatura da água que permite um mergulho retemperador. Os moinhos que se escondem sob nevoeiro, os passeios a pé no centro da vila e a simpatia das pessoas deviam ser fatores suficientes para que mais pessoas a procurassem.

Não fossem estas razões de sobra o Porto Santo é ainda o berço do melhor bolo do caco que já comi e que me ajudou a trazer mais 2 ou 3 quilos na “bagagem”. Comprado na barraca da d. Fernanda e feito pela Romana. Isso e a Poncha regional madeirense da qual sou fervoroso adepto. O amanhecer por ali é especial e gosto de me sentar a ler numa das cadeiras do Pé na Água enquanto aproveito o barulho das ondas. Passei aliás por ali parte dos meus dias, intercalando umas lapas carregadas de limão e um picado típico. A tranquilidade por ali não é monótona nem enfadonha, traz-nos a capacidade de pensar no passado, no presente e no futuro e do quanto somos privilegiados por ter locais destes onde o tempo não passa a correr e a segurança é um bem adquirido.

É fascinante que num espaço de terreno tão exíguo consigamos ter o melhor dos dois mundos que a natureza tem para oferecer. Pena é que nos primeiros meses do ano, desistam desta terra, retirando-lhe os voos diretos de Portugal continental. Devia a continuidade territorial exigir que se desse mais atenção e respeito aos locais que ficam com poucas “armas” para preservar os seus negócios, muito sustentados pelo turismo. E pena também que só se fale do Porto Santo no Verão quando há tanto por descobrir noutras alturas do ano. Eu cá não me importo de estar aqui com pouca gente mas imagino que quem cá viva não possa dizer o mesmo. Talvez não fosse despiciendo criar novas dinâmicas e puxar alguns eventos como tem a ilha da Madeira para que o Porto Santo se possa promover nacional e internacionalmente nestas alturas em que a procura é menor. A verdade é que é sempre um prazer enorme aqui voltar e confesso que nesta época, este lugar parece ainda mais mágico. Obrigado ao David, à Susana, Eduarda e a todos os que me recebem sempre aqui de braços abertos. Voltarei em breve.

Um Feliz 2025 para todos os leitores do Diário e para toda a equipa.

Um sentido abraço pelo desaparecimento da Zita Cardoso, uma amiga e um nome marcante da cultura de Machico e da Madeira.