Natal foi de três meses na Venezuela mas vendas souberam a pouco
Apesar de em outubro o Presidente Nicolás Maduro ter ordenado antecipar a quadra natalícia na Venezuela, as vendas dos últimos três meses souberam a pouco para os comerciantes, que se queixam de falta de dinheiro para dinamizar a economia.
"Comercialmente, o Natal foi um período alongado, entre outubro e dezembro, mas as vendas ficaram abaixo do esperado, souberam a pouco. Houve vendas, foi melhor do que no ano anterior, mas com o pouco dinheiro que as pessoas têm a prioridade é alimentação", disse o proprietário de uma loja de brinquedos à agência Lusa.
Fernando Ferreira explicou que há movimento nas lojas, que os venezuelanos estão cada vez mais seletivos com as compras, "muitos procuram o que é mais barato e quem tem possibilidade exige produtos de qualidade".
"Antes as pessoas compravam os brinquedos porque viam nas montras e gostavam, agora entram na loja, pedem para ver o produto e perguntam se não há algo parecido, mas mais económico, e muitas vezes saem sem comprar nada. Ou seja, há movimento nas lojas, mas poucas compras", disse.
Proprietário de um mini-supermercado em Caracas, José Lopes, abriu, pela primeira vez, o seu estabelecimento durante meio-dia no dia de Natal e em 01 de janeiro.
"Também nos produtos alimentares a venda ficou aquém do esperado", disse à Lusa.
Explicou que os produtos de mais qualidade e por isso mais caros foram menos procurados e referiu como exemplo as carnes, em que as pessoas deram prioridade às de menor categoria, de preço maio baixo.
"As grandes redes de supermercados de Caracas tiveram sucursais abertas as 24 horas, inclusive no dia de Natal e de Ano Novo, uma tendência que deverá ser permanente. As baixas vendas obrigam até as grandes cadeias a reinventar as opções", disse.
"Até a venda de bebidas alcoólicas foi pouco significativa este ano", disse.
Angélica Aranguren tem um pequeno restaurante no leste de Caracas, que decorou com enfeites de Natal desde outubro para evitar ser multada pelas autoridades como terá acontecido com alguns comércios que não acataram de imediato a ordem presidencial de antecipar a quadra natalícia.
"Na nossa área, as coisas foram difíceis. Temos que fazer promoções constantes, colocar cartazes com oferta nas portas, para conseguir pagar os serviços, os impostos e os empregados. Este Natal foi melhor que outros, mas a economia está muito contraída", disse.
A comerciante explicou que os venezuelanos estão a perder alguns hábitos, como tomar o pequeno-almoço fora e até mesmo aos domingos o número de refeições é reduzido.
Proprietário de uma loja de produtos para aves e animais, Marcos Jiménez explicou à Lusa que "os preços de alguns produtos subiram muito no último trimestre, afetando as vendas".
"Os preços de algumas marcas de alimentos para cães e gatos aumentaram mais de 60%, obrigando alguns clientes a misturarem as rações com arroz e massa cozidos em casa para fazer render o pacote", disse.
Vários comerciantes explicaram à agência Lusa que em 2024 surgiu uma plataforma de créditos para consumidores chamada Cachea, que permite às pessoas fazerem compras pagando apenas 40% do valor e pagar a diferença em uma ou mais prestações, segundo o tipo de estabelecimento.
"No entanto, no caso dos supermercados, o valor total da compra deve ser pago no prazo de 15 dias, o que é difícil para muitos consumidores e o valor está ancorado à taxa de câmbio do dólar com relação ao bolívar, a moeda venezuelana, que está sempre a perder valor", disse Alfonso Martínez.