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Consagrados nos caminhos do Consagrado

Ainda será possível dizer alguma boa nova sobre o que é a consagração e como se vive? Há uns anos, atrevi-me a escrever um livro sobre caminhos de vida consagrada por ser o Ano da Vida Consagrada. Esta breve reflexão é motivada por estarmos a viver o Dia dos Consagrados no ano do Jubileu 2025. Vou referir um livro único sobre consagração. O dicionário, de entre os vários significados, diz que consagrar é dedicar a Deus e consagrado aquele que se dedica ou foi dedicado ao serviço de Deus. Já não é pouco este sentido de vida. Ocorre interrogar-se se é mais significativa a forma reflexa ou a forma passiva do verbo: consagrar-se, o próprio, ou ser consagrado. Parece que as duas valem nas várias modalidades de consagração na Igreja. Digo na Igreja, mas não se exclui que qualquer pessoa, mesmo fora dela, se consagre ao serviço de Deus, e, acrescento, que o serviço de Deus, como o amor, não pode excluir o serviço aos outros. Outra reflexão muito oportuna é a procura dos modelos de consagrados. Ao falar de modelos já deparamos com um mundo deles, embora alguns jornalistas e comunicadores se inclinem tantas vezes, talvez, por motivos de atrair leitores, a evidenciar mais antimodelos de consagração que de bem-fazer aos seus semelhantes. Uma questão me vem à mente sobre modelos e antimodelos: quais serão os mais numerosos ou, na linguagem de democracia, quais são maioria para ditar as normas sociais, as quais, apesar do que se alardeia, raramente são maiorias para impor atos que contrariam as leis da vida humana. Na terminologia cristã todos os sacramentos são modos de consagração e os que recebem alguns deles não são minorias. Pena é que alguns não tomem consciência disso nem pareçam viver essas modalidades de vida consagrada a Deus para o servir e servir os seus irmãos.

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De toda a maneira, em vez de nos determos no número pequeno ou grande dos que caminham ao serviço de Deus e do próximo e sejam consagrados assumidos, olhemos neste ano do Jubileu para o Consagrado por excelência, o próprio Jesus. Estará certo afirmar que se aplica a Jesus Cristo este título como autor das palavras que deram origem ao livro referido acima? Se o consagrado é aquele que se dedica ao serviço de Deus e, por outras palavras, aquele que faz a vontade de Deus, não há dúvida que Jesus fez-se carne para fazer a vontade do Pai. O Evangelho, o livro sobre Ele, está cheio de afirmações que o atestam. A festa de domingo, 2 de fevereiro, marca o início desta consagração. Jesus Menino foi levado ao templo para ser apresentado ao Pai, para serviço d’Ele, como Salvador do homem perdido, como todos os de hoje. Lucas que investigou bem as testemunhas diretas da sua vida e deixou isso bem claro: escreve que o profeta Semião disse a Maria, sua Mãe que Jesus veio para salvação de muitos e, também, para perdição de outros. Aos doze anos no Templo entre doutores da Lei, Jesus confirmou a sua Mãe e a S. José, que Ela devia saber que se ficou ali foi para estar ao Serviço do Pai e que Ela e S. José até deviam saber isso.

Mas Jesus era o Consagrado e o modelo dos consagrados de todos os tempos até ao fim do tempo. Modelo e guia de consagrados por ser a Palavra de Deus, como celebrámos no Domingo passado. Uma outra confirmação do que vimos dizendo foi lida precisamente nesse domingo. Resumo livremente. O Espírito está sobre Mim e consagrou-me para ir em serviço a socorrer os pobres, os doentes, os prisioneiros e a proclamar um ano de graça. Um Jubileu. O livro do Evangelho que todos os batizados, muito e pouco letrados, lerão como leitura diária e mais que o telemóvel, confirma dezenas de vezes que Jesus vive consagrado ao Pai: acolhe doentes, perdoa os pecadores, ora a sós, convida a deixar tudo e a segui-Lo e pede que não se envergonhem de O anunciar, nem de comunicar o bem que os consagrados fazem, como o Papa Francisco, no dia 27, deixou o alerta aos comunicadores de Igreja: “cada cristão é chamado a ver e a contar as histórias do bem que um mau jornalismo quer apagar, dando espaço apenas ao mal. O mal existe, não deve ser escondido, mas deve sacudir e gerar perguntas e respostas”. Cristo nunca escondeu que o iam matar, mas que a sua morte era ato de Ele fazer a vontade do Pai e por isso rezou: faça-se antes a vossa vontade. E não só a fez, mas ensinou a rezar: “seja feita a vossa vontade (do Pai) assim na terra como no Céu”, por nós seus filhos. E no ato de morrer, orou como consagrado: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E o Pai devolveu-lho na ressurreição. Também vivemos a Esperança que nos ressuscite a nós.

Aires Gameiro

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