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2025: Novo Ano, um Novo Ciclo para a Madeira

O ano de 2025 surge como um momento determinante para o futuro da Madeira. A Região precisa de redefinir o seu rumo, com soluções governativas credíveis, responsáveis e direcionadas para o crescimento e progresso. A instabilidade política prolongada, acentuada pela desconexão tripartida entre os representantes políticos, as instituições e os cidadãos, tornou-se insustentável. Chegou a hora de romper com este ciclo de paralisia e pulverização instalado.

A Madeira enfrenta sérios desafios no campo social, económico e político. O desânimo generalizado alastrou-se, enquanto a falta de coesão social, coadjuvada com a crise política instalada, impedem qualquer progresso significativo para a Região. O mais preocupante, porém, é que muitos dos que ocupam cargos de responsabilidade política demonstram falta de capacitação, de proximidade com os cidadãos e, acima de tudo, de sentido de dignidade e respeito no exercício das suas funções. Estas evidências têm contribuído para o aprofundar da desconfiança e da descrença dos madeirenses e portossantenses no sistema político.

Neste contexto, a oposição, liderada pelo Partido Socialista, enfrenta uma enorme responsabilidade. Mais do que nunca, é essencial que o PS Madeira se afirme como uma força política mobilizadora e próxima da sociedade civil, capaz de devolver ânimo e esperança à população. Tal já foi possível no passado, quando se assistiu a um (re)nascimento de expectativas, durante o qual as diferenças foram secundarizadas, em prol de uma visão comum de progresso. Hoje, contudo, essa energia encontra-se esgotada, e a Região encontra-se sob a liderança de figuras que promovem soluções para problemas complexos de forma artificial e, por vezes, irresponsável.

Paralelamente a tudo isto, há sinais de mudança positiva. O acesso universal à informação, o desenvolvimento de novas tecnologias e a progressiva habilitação dos nossos cidadãos têm contribuído para formar cidadãos mais conscientes e, simultaneamente, mais exigentes. Os madeirenses procuram líderes que estejam à altura das circunstâncias, que sejam competentes, rigorosos e capazes de responder ao concreto, com soluções eficazes. Pese embora, a maioria dos nossos governantes continuam a ignorar esta transformação social, mantendo-se agarrados a práticas antiquadas e desfasadas da realidade.

A par desta crise política, a Madeira enfrenta enormes desafios económicos e sociais. No momento, mais de 60 mil madeirenses vivem abaixo dos limites da pobreza, sobrevivendo com rendimentos inferiores a 591 € por mês. Quem trabalha, nos dias que corre, também pode ser pobre, fruto dos baixos salários e da precariedade que persiste. Os trabalhadores do setor hoteleiro são dos mais afetados, são mais de três mil trabalhadores em toda a Região, faltando contabilizar todos os que laboram no setor da restauração. Ao longo destes anos de dedicação a uma atividade que colocou a Madeira como “Melhor Destino Insular do Mundo”, por diversas vezes, estes trabalhadores enfrentam condições de trabalho precárias com remunerações manifestamente baixas. Este é um paradoxo gritante, que ilustra as desigualdades presentes: os que mais contribuem para o sucesso turístico internacional da Região, são aqueles que frequentemente auferem menos rendimentos, face a outros setores de atividade.

O grupo mais vulnerável da nossa sociedade são mesmo os idosos. Cerca de 20% dos reformados e pensionistas madeirenses vivem em situação de pobreza extrema, tendo a Madeira a taxa mais elevada de todo o país. Depois de uma vida de trabalho, esta gente enfrenta o dilema diário entre garantir uma refeição ou adquirir os medicamentos que precisa. Este é o retrato social, a realidade cruel, que existe e persiste na Região ao olhar de todos nós.

A emigração de jovens é a maior ameaça ao futuro da Madeira. Desde o início dos anos 2000, a Região perdeu cerca de 35% da sua população jovem, empurrada para fora da sua terra, pela falta de empregos e oportunidades de realização pessoal e profissional. Este êxodo, para além, de acentuar o envelhecimento demográfico, compromete algo mais profundo, inviabiliza seriamente o desenvolvimento sustentado da Região, privando-a dos seus recursos mais preciosos, o capital humano.

A crise da habitação, por sua vez, alastra a pobreza às classes médias. Com preços médios de compra de habitação que ultrapassam os 2000 € por m², a maioria das famílias madeirenses sentem-se excluídas do mercado imobiliário, ou pelo menos, ressentidas financeiramente. Esta realidade reflete e clarifica a preocupante desconexão entre aqueles que elaboram as políticas públicas que estão a ser conduzidas e as necessidades concretas da nossa população.

Enquanto as questões estruturais permanecem sem resposta, o debate público têm-se baseado nas disputas partidárias, nas acusações menos ou mais infundadas, na “troca de galhardetes”. De tudo se fala, tudo se discute, menos do essencial - do debate das ideias e das propostas sólidas e orientadas para o Futuro. Este vazio de ideias e esta priorização do jogo político em detrimento dos interesses da população, não só afastam os cidadãos da vida política, afastam os políticos da realidade “nua e crua” da Madeira.

Neste cenário, os principais partidos da oposição, nomeadamente o PS e o JPP, têm uma responsabilidade séria e complexa, que não pode ser relativizada. Mais do que “apontar o dedo” ou de criticar o legítimo, os principais partidos da oposição precisam de se abrir à sociedade civil, promovendo o diálogo inclusivo e envolvendo os jovens, os trabalhadores (em particular, os precários), os empresários, os dirigentes associativos e a restante comunidade, na auscultação e promoção de soluções concretas e sustentadas.

A Madeira precisa prementemente de uma liderança à altura dos desafios que enfrenta. Uma liderança capaz de inspirar confiança, de apresentar uma visão clara e genericamente consensual para o futuro da Madeira. A Região precisa de uma Nova Agenda para a próxima década, concentrada no combate à pobreza, na atração e retenção de jovens qualificados, na construção alargada do parque habitacional público e de apoio ao arrendamento acessível. A Madeira precisa de diversificar a sua economia, para que esta deixe de ser vulnerável a “choques externos”. A Madeira precisa de garantir o pleno emprego, de reformar a administração pública regional e de criar benefícios fiscais aqueles, que mesmo sendo pequenos empresários, querem pagar melhor aos seus funcionários.

Este ano de 2025 oferece-nos uma oportunidade única para que a Região inicie um novo ciclo na sua história. Um Futuro de união, assente nos pilares da justiça social e do desenvolvimento sustentável, um Futuro que exige de todos nós coragem e compromisso. Que este seja o ano em que a Madeira demonstre que é capaz de superar as suas adversidades e de se afirmar como uma Região que, não só, detém inúmeras potencialidades, mas que também as concretiza em benefício de todos.