Derrocada de lixo indignava população da Camacha há 25 anos
Estávamos a 3 de Janeiro de 2000 e uma "visita muito policiada" ao aterro da Meia Serra originava confrontos entre a polícia e a população da Camacha, que insistia em ver com os próprios olhos o local onde se deu uma derrocada de lixo, ao princípio da noite de 7 de Dezembro de 1999, que atingiu o Sítio do Ribeiro Serrão.
Na origem do incidente esteve o desabamento da muralha de suporte de um dos aterros da Meia Serra, na sequência das fortes chuvadas que se fizeram sentir naquela zona e na insuficiente drenagem do aterro.
O resultado, soube-se um dia depois, foi um cenário "dantesco". Toneladas de lixo e terras invadiram as duas lagoas de decantação das águas lixiviantes localizados alguns metros abaixo, que transbordaram e invadiram a pequena Ribeira da Cerejeira levando consigo tudo o que encontraram pela frente desde palheiros a rochas e terrenos agrícolas. Uma habitação ficou completamente destruída, três viaturas bastante danificadas, uma das quais praticamente irrecuperável e uma escavadora soterrada.
Associada a este caso esteve, inclusive uma vítima mortal. Um homem de 39 morreu, na sequência da enxurrada ocorrida no sítio do Ribeiro Serrão.
"A morte, segundo apurámos no local da tragédia, não foi directamente provocada pela avalancha de terras e águas. Contudo, os moradores naquela zona afirmam que a vítima, José Arnaldo, ficou bastante emocionado e nervoso com o sucedido, principalmente quando viu as consequências da enxurrada", noticiou o DIÁRIO.
O desastre ambiental teve também eco na televisão nacional:
Neste mesmo dia, há 25 anos, a população da Camacha visitou, finalmente, o aterro da Meia Serra, mas não se deixou convencer com as promessas do Governo de que a estação estaria a funcionar em condições de segurança em quatro semanas.
Estão ser feitas obras, mas não se vê nada. Estão a mentir. A gente não quer saber dos planos. A gente quer façam as obras no muro de suporte e que mandem o lixo para outro sítio e longe de casas Morador do Ribeiro Serrão
A tensão subiu no local quando um efectivo da "polícia de choque" disse que o filho de um popular também "comia".
A Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra
A Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos (ETRS) da Meia Serra é uma das infra-estruturas do Sistema de Transferência, Triagem, Tratamento e Valorização de Resíduos da Região Autónoma da Madeira que integra soluções de valorização / eliminação de vários tipos de resíduos (indiferenciados, verdes, hospitalares, de matadouro, pneus, madeiras, entre outros) recolhidos na Região.
A sua construção da ETRS foi iniciada no final da década de 80, com conclusão em 1991, sendo nessa altura o primeiro sistema integrado de tratamento e destino final de resíduos urbanos do País.
Com o passar do tempo, surgiu a necessidade de localização da ETRS - Meia Serra adequar os tratamentos aí existentes às directrizes europeias e nacionais, bem como adoptar uma solução integrada da valorização/ eliminação, devidamente articulada com a valorização multimaterial (através de recolha selectiva e de reciclagem dos materiais) e com a optimização do transporte (construção de Estações de Transferência).
Entre 1998 e 2004, a ETRS beneficiou de obras de ampliação e remodelação das infra-estruturas, tendo havido uma requalificação da área envolvente.
Recentemente, conforme noticiou o DIÁRIO, a Instalação de Incineração de Resíduos Sólidos Urbanos da Meia Serra esteve parada 19 dias (de 4 a 22 de Novembro de 2024) para manutenção.
A mesma notícia dava conta que, até ao passado dia 5 de Novembro, foram recebidas na Meia Serra cerca de 106 toneladas de resíduos indiferenciados destinados à incineração.
Sérgio Pedro, director-geral de Serviços de Resíduos, que tem à sua responsabilidade toda a Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Meia Serra, vincava em declarações ao nosso matutino que esta Instalação de Incineração de Resíduos Sólidos Urbanos conta com duas décadas de actividade, mantendo-se bastante actualizada no que se refere à tecnologia usada nesta área.
O responsável garantia ainda a ‘Meia Serra’, como é vulgarmente conhecida esta estação de tratamento, continua a cumprir com os principais objectivos que nortearam a sua criação, nomeadamente reduzir em peso e em volume os resíduos indiferenciados produzidos na Região, a que se juntou, desde o primeiro momento, a produção de energia eléctrica.