Delegação do Hamas reúne-se sexta-feira com mediadores para desbloquear acordo
Uma delegação do grupo islamita palestiniano Hamas retomará na sexta-feira em Doha as negociações sobre um cessar-fogo em Gaza com os mediadores - Qatar, Egito e Estados Unidos - para desbloquear o acordo que há semanas parecia iminente.
"Amanhã [sexta-feira], retomaremos as negociações com todos os mediadores em Doha", confirmou Basem Naim, membro do gabinete político do Hamas, citado pela agência de notícias espanhola Efe.
Depois de as conversações terem sido reativadas no início de dezembro, com sinais positivos de ambas as partes sobre a possibilidade de alcançar um acordo - até o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse às famílias dos reféns que tinha chegado o momento de um pacto -, o diálogo foi novamente interrompido há uma semana.
O Hamas acusou Netanyahu de impor novas condições quando as bases para um novo acordo já estavam definidas.
Uma fonte do Hamas no Egito indicou hoje que "o acordo é possível e pode ser alcançado em breve se o Governo de Netanyahu retirar as novas condições que obstaram a um acordo entre as duas partes".
"Há muitos pontos de fricção entre Israel e o Hamas nas negociações", de entre os quais se destaca a lista de reféns vivos, que "Israel insiste em obter".
O Hamas argumenta que precisa de alguns dias de trégua para entrar em contacto com outros grupos com reféns sob sua custódia, para saber onde estão e se estão vivos ou mortos.
Por outro lado, uma fonte egípcia próxima das negociações entre Israel e o Hamas disse à Efe que "o acordo está quase pronto e os obstáculos podem ser ultrapassados", uma vez que o Hamas "não se opõe a que o acordo seja concluído em duas fases".
A Jihad Islâmica, outro grupo que tem em seu poder alguns reféns israelitas, indicou hoje que um dos cativos tentou suicidar-se há três dias, quando se inteirou de que as negociações tinham fracassado devido às novas condições impostas por Netanyahu.
A Faixa de Gaza é cenário de conflito desde 07 de outubro de 2023, data em que Israel ali declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis.
Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) fez também nesse dia 251 reféns, 96 dos quais continuam em cativeiro, 36 deles entretanto declarados mortos pelo Exército israelita. Mas há mais quatro sequestrados há anos, entre os quais dois soldados mortos desde 2014.
Desde que a guerra começou, Israel e o Hamas só alcançaram um acordo de cessar-fogo de uma semana, em finais de novembro de 2023, no âmbito do qual foi feita uma troca de 105 reféns por 240 prisioneiros palestinianos que se encontravam encarcerados em prisões israelitas.
Desde então, o Exército israelita resgatou com vida oito reféns e recuperou os cadáveres de outros 38, ao passo que o Hamas libertou por "razões humanitárias" quatro mulheres, poucas semanas após o ataque.
A guerra, que hoje entrou no 454.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 45.581 mortos (cerca de 2% da população), entre os quais mais de 17.000 menores, e 108.438 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, na maioria civis, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças e infeções, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Cerca de 90% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza viram-se obrigados a deslocar-se, muitos deles várias vezes, ao longo de mais de um ano de guerra, encontrando-se em acampamentos apinhados ao longo da costa, praticamente sem acesso a bens de primeira necessidade, como água potável e cuidados de saúde.
O sobrepovoado e pobre enclave palestiniano está mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
No final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio na Faixa de Gaza e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita.