Crónica diária
Escrever sobre a vacuidade dos milhares de dias das nossas vidas…
Os pássaros que cantam regaladamente e que nos lembram que é sempre melhor que um som urbano…
O sol que pela manhã nos enche o interior de energia e nos revigora para o dia…
Um passarinho a beber água em cima duma estrelícia…
Lá vão as pessoas apressadas para as suas fábricas de formatação...
O “loop” enjoativo dos ofícios como no filme “Groundhog day”, sempre a mesma coisa…
As idosas que nos vigiam nos seus terraços com os seus olhares inquisidores…
As sombras quais espiões que nos perseguem constantemente nas ruas…
Os zigue-zagues tal como uma gincana que fazemos por causa dos dejectos dos cães…
Os carros que passam velozmente de um lado para outro como um jogo de computador…
Os pontos brilhantes refletidos no mar que brilham e desaparecem…
Os telemóveis “altos” com conversas que não nos interessa minimamente ouvir…
As hordas de lagartixas apressadas mas sempre de olho desconfiado…
Os pombos famintos que nos circundam nas mesas à espera que as migalhas caiam no chão…
Uma mosca a beber deliciosamente uma gota de coca-cola derramada na mesa…
As motos do “terrorismo decibélico” que nos impedem de comunicar momentaneamente…
Os “bisbilhoteiros” com as suas perguntas mal-educadas e invasivas sobre a nossa vida privada…
As pseudo-celebridades sem talento que pululam nos nossos telemóveis…
Uma flor bonita a reluzir com o sol depois de uma chuvada…
Os comentadores de futebol e política na TV, sempre com solução para tudo e para nada...
Zapping. Os bimbos e bimbas do “Secret Story” a falar mal português que infelizmente apanhamos inadvertidamente…
Um raio de luz que perpassa a janela e ilumina o pó do teclado enquanto “esperamos” escrever…
Escrever. Um bloqueio surge na cabeça. Uma névoa de ideias, uma vírgula sem letra, uma frase sem ponto, um espaço intermitente…
Esperar que se regurgite os vocábulos presos no cérebro para sair pelas pontas dos dedos…
Os anúncios “manhosos” que nos interrompem os sites que nós navegamos na internet…
Os políticos que mentem desavergonhadamente como se não tivéssemos memória…
Os clérigos quando são um péssimo exemplo. As acções “falam” mais que as palavras!…
Sexistas contra sexistas. E que tal sermos todos humanistas? Aceitando as nossas diferenças…
Quando a estupidez se agrega e é mais forte que a sensatez individual e nada podemos fazer…
Quando perguntamos às nuvens impávidas o sentido disto?...
As bananeiras e as casas típicas que felizmente ainda nos recordam a Madeira antiga…
A arte (de qualquer forma) que nos resgata do mundo maçador…
Quando se ouve música clássica que nos possui e nos engrandece…
Os livros que nos seduzem nas livrarias, que compramos e depois nos atormentam em estantes vultosas…
A mudez irritante desse suposto Deus (?...) perante as recorrentes injustiças da vida no mundo…
A infinitude de problemas que nos caem perante a finitude que são as nossas vidas…
Rodrigo Costa