Machico: A depressão de Inverno – parte II

Com o final das festividades de Natal e Ano Novo, Machico volta a mergulhar na já conhecida “depressão de inverno”. Este fenómeno, que parece repetir-se anualmente, expõe de forma clara a ausência de estratégias locais para manter a dinâmica social, económica e cultural ao longo de todo o ano. As ruas, antes animadas pela quadra natalícia, voltam a esvaziar-se, e a monotonia instala-se.

Esta realidade não é nova. No entanto, a inércia do poder local, em 12 anos foi incapaz de romper este ciclo sazonal, torna-se mais evidente à medida que os anos passam.

Em 2025, ano de eleições autárquicas, os discursos previsíveis e cheios de promessas vazias voltam a surgir. Fala-se novamente em projetos grandiosos, como novos hotéis, enquanto se desenterram memórias de episódios passados – como a demolição do hotel Atlantis – para justificar atrasos e insuficiências. Entretanto, esquecem-se de mencionar a sua própria quota-parte de responsabilidade em episódios como o caso da Quinta do Lorde, hoje Madeira Dreams, onde investigações e disputas políticas ajudaram a retardar o progresso do empreendimento.

Mas será que este ciclo de letargia é inevitável? A chegada da primavera e do verão trará, como de costume, um breve período de animação, impulsionado por eventos que já são tradição: o MIUT, o Mercado Quinhentista e a Semana Gastronómica, todos serão anunciados como “os melhores de sempre”. Contudo, assim que o verão passar e as eleições terminarem, a questão persiste: Machico voltará a cair na depressão de inverno?

A resposta depende da capacidade do poder local de finalmente agir de forma estratégica e sustentável. Para quebrar este padrão, é necessário mais do que eventos pontuais e promessas eleitorais. É preciso um planeamento contínuo que assegure a vitalidade de Machico durante todo o ano, não apenas nas épocas altas.

Machico é uma terra rica em história, cultura e beleza natural. Estas características, se devidamente aproveitadas, podem transformar o concelho num exemplo de dinamismo contínuo, afastando o espectro da depressão de inverno. Contudo, isto só será possível com uma mudança de mentalidade e com a participação ativa de todos – desde os cidadãos ao poder local.

Que esta seja a última “depressão de inverno” e o início de um futuro próspero para todos os machiquenses.

António Nóbrega