Destino: Rota do Mundo
A emigração faz parte intrínseca da identidade madeirense. Ter um familiar embarcado é uma experiência compartilhada por quase todas as famílias, em cada uma das freguesias da nossa ilha. Na memória coletiva, estão presentes alguns dos destinos emblemáticos das últimas décadas, como a Venezuela, Jersey ou os Estados Unidos da América. No entanto, os madeirenses estão espalhados pelos quatro cantos do mundo, mantendo viva a ligação à sua terra natal, mesmo à distância.
A primeira petição oficial de passaporte registada, segundo a Direção Regional do Arquivo e Biblioteca da Madeira, remonta a 1862. Os primeiros destinos foram a Demerara (atual Guiana Britânica) e os Estados Unidos da América. Naquele ano, 12 pessoas partiram para a Demerara, provenientes de nove freguesias da Madeira, e uma pessoa para os Estados Unidos. O primeiro cidadão a obter um passaporte para a Demerara foi Manuel Gonçalves de Canha, natural do Porto Moniz.
1862 marcou o início oficial de um longo ciclo da emigração madeirense, que moldou o destino de milhares de conterrâneos, lançando-os às rotas do mundo. Argentina, Brasil, Trindade e Tobago, Curaçau, Havaí (então conhecidas como as Ilhas Sandwich), Austrália, Alemanha, Bélgica, Marrocos, França, Canadá e Venezuela, são apenas alguns dos muitos destinos que compõem a extensa história da diáspora madeirense.
Estima-se que hoje milhares de madeirenses e os seus descendentes residam fora da ilha. Embora seja difícil calcularmos números exatos, os ecos da braguinha, o cheiro da carne de vinha d’alhos e o ritmo do bailinho chegaram aos recantos mais remotos do mundo, perpetuando a cultura madeirense.
Mas porque é essencial refletir sobre a nossa emigração e preservar as histórias dos que partiram? Porque estes “anónimos” que partiram rumo ao desconhecido construiram outras “Madeiras” nos países que os acolheram. Muitos deles nunca tiveram a oportunidade de regressar, mas levaram consigo um pedacinho da Madeira – na memória, na cultura, na gastronomia e nas tradições que perpetuam por esse mundo além.
Cada história conta. Por trás de cada registo, documento ou fotografia há uma narrativa de coragem, de despedida e de superação. E o que é realmente o sucesso para um emigrante? Para muitos, o sucesso é simplesmente encontrar uma vida melhor para si e para os seus.
E hoje continuamos a somar novas histórias e a traçar novas rotas no mapa da nossa diáspora. A emigração é parte viva e dinâmica da história da Madeira – um elo entre o passado, o presente e o futuro que nos conecta com o mundo.