Prolongado alerta vermelho em Mayotte devido a tempestade tropical que segue para Moçambique
O arquipélago francês de Mayotte, no Oceano Índico, vai manter-se sob alerta vermelho até segunda-feira à noite, devido à passagem da tempestade tropical Dikeledi, que já causou três mortos em Madagáscar e se dirige agora para Moçambique.
Mayotte, que já tinha sido afetado pelo ciclone Chido no mês passado, causando pelo menos 39 mortos e mais de 5.600 feridos, foi hoje atingido por torrentes de água, que provocaram inundações, mas até ao momento não há vítimas.
O prefeito de Mayotte, François-Xavier Bieuville, que tinha colocado o arquipélago sob alerta vermelho no sábado à noite, decidiu no final do dia de hoje prolongar o aviso até segunda-feira à noite.
A população está confinada desde sábado às 22:00 locais (19:00 de Lisboa), com proibição de circulação até nova ordem.
"Continuamos a ter ventos extremamente fortes e chuva igualmente forte", afirmou no canal Mayotte-La 1ère, receando "grandes inundações", especialmente porque uma segunda vaga de mau tempo trará muita chuva na segunda-feira.
O responsável afirmou que, até à data, não se registaram vítimas.
Houve "muita ação das forças da ordem, com os bombeiros e os militares de salvamento", incluindo "uma pessoa resgatada que foi apanhada pelas cheias no seu carro".
O instituto francês de meteorologia Météo-France prevê que a chuva e os ventos abrandem no domingo à noite, mas que as chuvas recomecem na segunda-feira de manhã com um 'Kashkasi', um fenómeno de monção que é habitual em Mayotte nesta época do ano.
Segundo Bieuville, a "região está muito frágil" na sequência da passagem do ciclone Chido, que arrancou vegetação, danificou infraestruturas, arrastou telhados e destruiu aglomerados populacionais no departamento mais pobre de França.
No seu ponto mais próximo, na madrugada de hoje, o Dikeledi passou a cerca de 100 quilómetros a sul do território. Às 18:08 locais (15:08 de Lisboa), encontrava-se a 180 quilómetros e continuava a afastar-se em direção a oeste-sudoeste, informou a Météo-France.
Oitenta centros de acolhimento de emergência (nomeadamente em escolas e mesquitas) foram instalados em todo o arquipélago, acolhendo cerca de 14.500 pessoas, segundo a prefeitura.
A passagem do ciclone no norte da ilha de Madagáscar causou três mortes devido às chuvas torrenciais e pelo menos 920 pessoas foram afetadas.
A população de Mayotte é oficialmente de 320.000 habitantes, mas na realidade poderá ser de "100.000 a 200.000 pessoas a mais, devido à imigração ilegal", segundo uma fonte próxima das autoridades.
Durante o período de alerta, todo o tráfego é proibido, exceto para os serviços de emergência e pessoas autorizadas.
O tráfego local de ferries foi interrompido às 19:00 horas locais de sábado e o aeroporto internacional foi encerrado às 16:00 horas locais.
Cerca de 645 efetivos da Proteção Civil foram pré-posicionados em locais estratégicos para responder o mais rapidamente possível ao aviso de ciclone.
O ministro do Ultramar francês, Manuel Valls, garantiu à agência AFP no sábado que "nada foi deixado ao acaso" para garantir a segurança.
A tempestade dirige-se agora para Moçambique, que foi duramente atingido pelo Chido em dezembro, matando pelo menos 120 pessoas e ferindo quase 900. O país lusófono está hoje sob alerta laranja.
Depois de ter atingido a costa nordeste de Madagáscar no sábado à tarde, o ciclone começou a enfraquecer e foi rebaixado para uma forte tempestade tropical.
O Dikeledi deverá "intensificar-se de novo lentamente nas próximas 24 horas, atingindo o estádio de ciclone tropical, enquanto se aproxima da costa moçambicana, antes de curvar a sua trajetória para sul", segundo a Météo-France.
"A região de Nampula [norte de Moçambique] deverá registar condições muito más à medida que o sistema se aproxima", segundo a agência meteorológica francesa, que cita 'chuvas intensas, ventos fortes e condições marítimas perigosas'.
A Météo-France acrescenta que o ciclone continuará a intensificar-se, "ameaçando potencialmente o sul da costa malgaxe a partir de quarta ou quinta-feira".
Os ciclones desenvolvem-se normalmente no Oceano Índico entre novembro e março. Este ano, as águas superficiais na zona estão perto dos 30 graus centígrados, o que fornece mais energia às tempestades.