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Crónicas

As pessoas boas… e as outras

Quando tudo corre bem é muito fácil termos gente à nossa volta mas quando vamos abaixo sobram sempre poucos

Vivemos num tempo em que as pessoas verdadeiramente boas não são muitas vezes valorizadas. Umas vezes dizem que são demasiado puras, outras que são ingénuas. Há quem diga que é preciso um pouco de maldade no corpo para alguém ser interessante. Que quem é bom é demasiado previsível, pouco interessante ou monótono. É a construção de uma sociedade assente no permanente desafio, que se sente atraída pela insegurança e pelo incerto. Procuramos inconscientemente aquilo que não dominamos como se tivéssemos alguma coisa a provar e achamos sempre que damos a volta a situações instáveis e efémeras. Queixamo-nos sistematicamente de quem nos trai e não nos é fiel. Dos que não nos respeitam e não valorizam o que fazemos por elas mas acabamos sempre nesse caminho. O que parece fácil não é suficientemente aliciante, não nos excita nem nos faz correr a trás, não nos motiva nem nos preenche.

Isso faz-nos desvalorizar as pessoas boas, os bem intencionados, os que não têm maldade, que estão sempre lá para nós e que não demoram muito a conquistar. Parece que os damos como adquiridos, não dão luta e acabam sempre por estar ali ao nosso lado de tal forma que nem damos pela sua presença. A verdade é que é ao lado dos bons que conquistamos a estabilidade, é entre eles que ganhamos segurança para nos lançarmos nos voos da nossa vida e é no ombro deles que choramos quando algo corre mal. Não há nada que nos faça melhor do que uma pessoa genuinamente amiga, que nos queira bem, que nos apoie nos bons e nos maus momentos e não oscile conforme o vento ou os interesses. São os que gostam de nós só porque sim, que não precisam de palco para dar suporte e que dão sem esperar algo em troca. Os que nos tornam a vida mais leve e descomplicada, que nos perdoam mesmo sem merecermos e nos dão aquela segunda oportunidade. Porque quando tudo corre bem é muito fácil termos gente à nossa volta mas quando vamos abaixo sobram sempre poucos.

A Adília Lopes diz que “Só gosto das pessoas boas, quero lá saber que sejam inteligentes, artistas, sexy, sei lá o quê. Se não são boas pessoas não prestam”. É uma frase aparentemente simples, de fácil compreensão e que toda a gente concorda. Mas quantas vezes escolhemos as más em detrimento delas? Quantas vezes não as valorizamos e até as minimizamos? Eu digo-vos, muitas. Parece um ciclo indissociável, apostamos nas companhias erradas, arrependemo-nos, desiludimo-nos, sofremos, muitas vezes quando tínhamos a perfeita consciência que isto iria acontecer, mas pouco depois voltamos a repetir os mesmos erros. E quem é que sobra? Os que nunca nos deixam sós. E não há nada pior no mundo do que estarmos sozinhos, do que não termos ninguém com quem contar, de quem se preocupe connosco. Por vezes tanto que até parece uma chatice.

Mas até as pessoas boas se fartam se ser colocadas de lado, de serem preteridas ou esquecidas. E quando perdemos uma, quando refletimos e temos consciência de que aquela pessoa desistiu de nós, quando nos falta aquela presença, o silêncio que diz tudo ou a mensagem que não esquece este ou aquele momento, percebemos a merda que fizemos. Queixamo-nos repetidamente dos azares, da vida que não nos corre bem, dos que não correspondem e nos falham sem perceber a maior parte do tempo que a magia está nos que lá no fundo são tudo para nós, que nos olham com um brilhozinho nos olhos e são os primeiros a aparecer em nosso auxilio quando parecemos perdidos. Com pessoas boas ao nosso lado nós somos indubitavelmente melhores, mais felizes e preenchidos. Eles são a consistência, a estabilidade e a magia. Porque há sempre um dia em que precisamos de alguém que esteja lá para nós, que nos abrace e não nos deixe sós. Não as percam nunca, são o mais valioso que temos.