Fazer o que depende de nós
É preocupante assistir à forma como se tem vindo a degradar o ambiente político e social no nosso País
Findas as festas e já com o ano de 2025 a decorrer é de bom tom desejar um Feliz Ano, sendo que eu prefiro sempre associar a esse pedido, o apelo para que tenhamos saúde e força para lidar com a vida. A vida que nem sempre corre de feição, mas que depende muito de nós próprios, da forma como a gerimos e como alocamos o esforço e a resiliência dentro da nossa esfera de atuação, ie, naquilo que está sobre o nosso controlo.
Assim, é importante estabelecer os nossos hábitos e rotinas e a forma como nos tratamos, definir as atividades onde, diariamente, semanalmente ou mensalmente, devemos alocar os nossos recursos e energia, escolher de forma preparada as decisões a tomar, estabelecer os objetivos, as prioridades e os limites que cada um pretende assumir, determinar a forma como reagir e trabalhar, cuidar do modo como se trata os outros, não só aqueles que escolhemos para estar à nossa volta mas também os demais, independente da sua origem e condição.
De fora deve ficar a consciência de que há muito que sai do nosso controlo, que há coisas que não dominamos e que, por isso, devemos ter uma atitude passiva mas vigilante. As ações, o comportamento e as opiniões de terceiros, inclusive sobre nós próprios, o passado e o futuro são alguns exemplos.
E enquanto nos orientamos no “renascer” que o Natal nos proporcionou e na rotina que a responsabilidade nos exige, 2025 flui. Soma dias e segue com muitas das mesmas preocupações.
A instabilidade vivida pelos ambientes políticos portugueses que consistem em minorias que, embora estabelecidas de forma democrática, dão a chave da casa de banho a pessoas que não têm mais do que a necessidade de se fazerem ouvir e de mostrarem a qualquer custo que existem, pondo em causa o interesse coletivo, a necessidade de resolver problemas maiores e de pôr em prática decisões importantes no médio e longo prazo.
É preocupante assistir à forma como se tem vindo a degradar o ambiente político e social no nosso País. É só ver a forma como muitos falam ou como, muitas das vezes nas redes sociais, se escreve as maiores barbaridades ou como, de forma encapotada e/ou anónima, se fazem denúncias caluniosas sobre terceiros, deixando de lado a consideração pelo outro e pelos seus ascendentes, descendentes e/ou parentes colaterais.
Toma-se o todo pela parte, transforma-se o menor em maior e em fator de bloqueio. Substitui-se o ódio pelo direito a ter opinião e alimenta-se o ruído com uma falta de responsabilidade e de respeito, não só pela maioria que não escolheu várias minorias, bem como pelo desdém e pela maldade.
E assim vamos deixando passar oportunidades de valorização coletiva e de implementação de projetos relevantes muitos deles associados ao nosso bem-estar e à resposta que os serviços públicos devem dar. E assim o tempo passa e vamos, de forma aflitiva, prolongando os problemas deixando para trás a implementação de reformas e de decisões estratégicas que têm um plano e um caminho a seguir.
Para que serve exigirem decisões e ações às lideranças quando as forças de bloqueio e ameaças são tão grandes, dispersas, e por vezes ocultas, que matam à partida a aspiração ou adulteram, de forma significativa e irremediável, o objetivo e o projeto inicial.
Reconheço que a nossa zona de conforto limita-nos, que os desafios muitas vezes põem-nos à prova e que, quando superados engrandecem-nos, mas não é isso que estamos a assistir. Estamos mais perto do caos e do disfuncional para bem dos especialistas em viver nestas condições que andam deslumbrados.
A decisão de manter ou alterar este estado de coisas depende de nós. Compete a cada um fazer o seu melhor nos domínios que são controláveis e, quando chamados a votos, nos darmos ao trabalho de analisar os projetos e os compromissos e de optar por uma solução que dê futuro.