Ainda sobre o Escaravelho da Palmeira

Na atualidade, a atenção dada a um determinado assunto parece depender do favor, ou desfavor político e de quantos votos/atenção popular ele consegue convergir. Em suma, alguns assuntos importantes, mas menos populares, caem cedo no esquecimento.

E se não caem, mantêm-se por inércia e porque dá jeito politicamente ter algo por onde pegar.

A praga do escaravelho da palmeira não é recente, nem tampouco novidade. Os danos são provocados pela atividade das larvas grandes e brancas de uma espécie de escaravelho que roem o centro apical da palmeira, impedindo o seu desenvolvimento e quase sempre ditando o seu abate por morte e perigo para a via pública.

A espécie preferida de palmeira deste inseto é a Phoenix canariensis, a mais comum palmeira que encontramos um pouco por todo o lado, facilmente identificável por aquele aspeto de “ananás” que teimamos em lhe dar. Esta espécie não é nativa na região, mas está naturalizada, ocorrendo germinações, provavelmente por ação de melros pretos, um pouco por todo o lado, desde o vale do Porto Novo ao vale de São Vicente.

Curiosamente, rara é a palmeira, nestas condições “selvagens”, que é atacada pelo escaravelho o que nos deve levar a considerar que é a ação humana que está a exacerbar os danos que este inseto faz nas palmeiras.

A moda paisagística que a cultura madeirense tem para estas plantas é a de cortar as folhas de modo que pareçam ananases, desfigurando completamente a planta e retirando muito mais do que as folhas secas, tantas vezes deixando uns “penachos” na ponta, porque nesta terra, trabalho bem feito é trabalho que se veja à distância, não necessariamente um trabalho discreto e preciso.

As plantas, quando feridas, libertam hormonas de “stress” que são captadas por esses insetos. Estas feridas abertas são uma zona de entrada facilitada para o inseto por os seus ovos, atraindo o escaravelho tal qual um tubarão que deteta uma gota de sangue no mar. Assim, estes hábitos que nós mesmos perpetuamos porque apesar de sermos uma ilha que vende a natureza e os jardins, teimando na mesma inércia em não desenvolver esse conhecimento nem em aprimorar técnicas, acabam por piorar toda a situação.

Mas nada disto interessa porque “pode-se sempre comprar outras e as palmeiras não votam”.

João Freitas