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Trump apelará às emoções em debate, mas é Kamala quem mais tem em jogo

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O debate presidencial de terça-feira será uma oportunidade para o "experiente" e "indisciplinado" Donald Trump "apelar às emoções" do eleitorado encadeando falsas afirmações, mas é a "bem articulada" Kamala Harris quem mais tem em jogo, segundo especialistas em debates.

À Lusa, Tammy Vigil, professora na Faculdade de Comunicação da Universidade de Boston e especialista em debates políticos, considerou que a vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, é "bem informada e bem articulada", o que lhe dá vantagem para contestar falsas alegações propagadas pelo ex-presidente e candidato republicano, Donald Trump.

No entanto, a desvantagem é que Kamala "pode ser levada a corrigir Trump com tanta frequência que não conseguirá fazer o seu próprio discurso e argumentos".

"Isso pode fazê-la parecer uma professora que repreende um aluno desinformado em vez de uma líder por direito próprio. Isso é particularmente um problema por causa das expectativas e estereótipos de género sobre as mulheres, especialmente aquelas em posições de poder", explicou Vigil, cujo campo de estudo também se foca nas mulheres como comunicadoras políticas.

Por outro lado, Tammy Vigil vê em Trump um "talento especial para apelar às emoções de uma forma que encoraja os ouvintes a ignorar a razão".

E, embora "isso não seja realmente uma coisa boa", os comentários do magnata, "muitas vezes incorretos ou não baseados em factos", frequentemente "'parecem' corretos para as pessoas que procuram lugares para apontar dedos aos seus problemas", observou a especialista.

De acordo com um levantamento feito pela CNN, rede televisiva que sediou o primeiro debate presidencial deste ano entre Donald Trump e o atual Presidente e ex-candidato democrata, Joe Biden, o magnata republicano fez cerca de 30 falsas afirmações ao longo do debate, contra nove de Biden. 

O debate presidencial de terça-feira entre Kamala Harris e Donald Trump não terá público, os microfones serão silenciados enquanto o adversário tiver a palavra e não serão permitidas notas escritas, segundo as regras partilhadas pela ABC News, a rede que sediará o evento.

O debate presidencial de terça-feira é o único agendado até ao momento e pode ser a primeira e única vez que os eleitores verão Kamala Harris e Donald Trump num frente-a-frente antes da eleição geral de 05 de novembro.

Tom Hollihan, professor na Escola de Comunicação e Jornalismo USC Annenberg, na Califórnia, e especialista em comunicação política, acredita que a principal vantagem de Kamala Harris é a sua experiência como procuradora e antevê que a democrata terá neste debate uma melhor prestação do que Joe Biden, que debateu com Trump em junho passado e que acabou por desistir da campanha de reeleição após um fraco desempenho nesse confronto.

"Penso que Kamala terá menos probabilidade de tolerar os comentários rudes e até as estratégias de intimidação de Trump em comparação com Biden ou Hillary Clinton", advogou, esperando que a vice-presidente mantenha "o seu sentido de humor", o que poderá pesar a seu favor junto dos eleitores indecisos.

Do magnata republicano, Hollihan espera que "Trump seja Trump".

"Ele parece incapaz de atuar de qualquer outra forma. Isto significa que será rude, grosseiro e desagradável. Ele vai interromper Harris e tentará falar por cima dela", anteviu ainda.

Para Nate French, especialista em comunicação política e professor de Comunicação na Wake Forest University, na Carolina do Norte, a principal desvantagem que Kamala enfrenta é que estará no "palco principal, onde não estava há algum tempo".

"Ela não é novata na política, mas esta é a maior de todas as ligas", realçou.

French acredita que Kamala Harris estará em desvantagem "por ter que assumir a culpa por tudo aquilo que Biden possa ser criticado, sem o benefício de poder reivindicar totalmente os sucessos".

O professor acredita que o "indisciplinado" Trump terá uma dupla vantagem: experiência neste tipo de debates e experiência com câmaras televisivas.

Além disso, Donald Trump "não se vincula a factos", uma situação que coloca o republicano em superioridade caso não seja possível fazer uma verificação em tempo real das afirmações feitas ao longo do frente-a-frente.

Questionada sobre o poder que este debate poderá ter para moldar o curso da eleição, Tammy Vigil sustentou que o confronto terá especial impacto nos eleitores indecisos, mais concretamente em relação a um apoio ou rejeição a Kamala Harris, a candidata que "mais tem a ganhar ou perder com este debate em particular".

"A base de Trump é imutável e as pessoas que não gostam de Trump não podem ser conquistadas por ele neste momento. Também não vejo muitos eleitores verdadeiramente indecisos a descobrir algo sobre Trump que o faça ganhar o seu apoio", observou a especialista, frisando que o magnata é já um candidato muito conhecido neste momento.

Para Tom Hollihan e Nate French, uma gafe ou erro trágico de qualquer um dos candidatos poderá ser decisivo para o rumo da corrida eleitoral, mas "ambos precisam de parecer presidenciais", uma vez que os debates atraem um grande público e uma atenção e discussão significativa da imprensa.