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Surto de Mpox em Moçambique seria um desafio para um sistema de saúde já pressionado

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O diretor do Observatório do Cidadão para Saúde defendeu hoje à Lusa que um surto de mpox em Moçambique seria um desafio para um sistema de saúde já pressionado, defendendo reforço de campanhas para preparar as comunidades.  

"Um eventual surto seria, sem dúvidas, um grande desafio para o nosso sistema de saúde. Neste momento, Moçambique [que não tem qualquer caso positivo] deve colocar todos os meios à disposição (...). É importante também treinar o nosso pessoal de saúde para que seja capaz de gerir eventuais casos", disse Jorge Matine, em entrevista à Lusa, em Maputo.

O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrentou, nos últimos anos, diversos momentos de pressão, provocados por greves de funcionários que alertam para a falta de material médico e uma situação de trabalho "caótica" nas unidades de saúde, além de reclamarem de cortes salariais com a introdução da nova Tabela Salarial Única (TSU).

Para o diretor da Organização Não-Governamental (ONG) Observatório do Cidadão para Saúde, face ao risco de eclosão de um surto de mpox, a prioridade das autoridades moçambicanas devia ser, além do reforço da capacidade institucional, apostar em campanhas para informar as comunidades, que atualmente quase nada sabem sobre a doença que já atingiu mais de dez países africanos.

"O mais importante agora é dar às pessoas a educação necessária para que consigam até identificar os sintomas da doença (...), temos de reduzir os obstáculos criados por mitos e boatos. Tivemos casos desses durante a pandemia [de covid-19] em que houve muitos mitos e boatos, que não permitiram que a resposta, de ponto de vista de saúde, fosse a das melhores", frisou o especialista em saúde pública.

A exposição fronteiriça do país, sobretudo com a potência regional que já tem casos confirmados (África do Sul), é um dos desafios que as autoridades de saúde moçambicanas devem ter em conta, prosseguiu.

Desde o novo surto da doença, Moçambique testou, pelo menos, 36 amostras suspeitas e todas foram negativas, tendo o país aprovado um plano de resposta que inclui o fortalecimento da vigilância e da capacidade laboratorial, bem como prontidão clínica e capacidade de gestão de casos, avançou o diretor do Instituto Nacional de Saúde (INS), Eduardo Samo Gudo.

"Através dos seus parceiros nacionais, regionais e globais, Moçambique está a fazer diligências para que tenha, quando disponível, um 'stok' de vacinas. No entanto, neste momento, por Moçambique não ter casos positivos, não é elegível (...). Apenas os países que têm casos reportados são elegíveis para vacinação", declarou Eduardo Samo Gudo, na quarta-feira, à margem da 7.ª sessão ordinária do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) em Maputo, onde se debateu, entre outros aspetos, estratégias face à propagação do mpox no continente.

A monkeypox (mpox) é uma doença viral que se propaga dos animais para os seres humanos, mas que também pode ser transmitida entre seres humanos através do contacto físico, provocando febre, dores musculares e lesões cutâneas.

Até finais de agosto, mais de 22.800 casos tinham sido registados desde janeiro em 13 países africanos, incluindo a África do Sul, país vizinho de Moçambique, segundo a União Africana.

Esta é a segunda vez em dois anos que a doença infecciosa é considerada uma potencial ameaça para a saúde internacional, tendo o primeiro alerta sido levantado em maio, depois de a propagação ter sido contida e a situação ter sido considerada sob controlo.

Moçambique tem um total de 1.778 unidades de saúde, 107 das quais são postos de saúde, três são hospitais especializados, quatro hospitais centrais, sete são gerais, sete provinciais, 22 rurais e 47 distritais, segundo dados do Ministério da Saúde consultados pela Lusa.