ONU condena "trágica morte" de maratonista ugandesa Rebecca Cheptegei
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou hoje a "trágica morte" da atleta olímpica Rebecca Cheptegei, que terá sido queimada viva pelo seu companheiro, no oeste do Quénia.
"Unimo-nos ao Fundo de População das Nações Unidas e à ONU Mulheres para condenar energicamente este homicídio", disse o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, durante a conferência de imprensa diária, citada pela agência espanhola de notícias, a Efe.
A violência baseada no género é uma das violações mais frequentes dos direitos humanos, lembrou o porta-voz, acrescentando: "Como disse uma vez o Secretário-Geral, vivemos numa cultura dominada pelos homens que abandona as mulheres vulneráveis, negando-lhes a igualdade, a dignidade e os direitos".
A maratonista ugandesa Rebecca Cheptegei morreu na sequência de queimaduras, anunciou hoje o presidente do Comité Olímpico do Uganda, quatro dias depois de alegadamente ter sido queimada viva pelo companheiro no oeste do Quénia.
"Tomámos conhecimento da triste morte da nossa atleta olímpica Rebecca Cheptegei na sequência de um ataque violento do namorado. Que a sua alma descanse em paz e condenamos veementemente a violência contra as mulheres", afirmou Donald Rukare, numa mensagem na rede social X (antigo Twitter).
"Este foi um ato cobarde e sem sentido que levou à perda de uma grande atleta. O seu legado permanecerá vivo", acrescentou.
A atleta de 33 anos - que terminou a maratona dos Jogos Olímpicos de Paris, em agosto, em 44.º lugar - estava a receber tratamento no Moi Teaching and Referral Hospital na cidade de Eldoret, no oeste do Quénia, onde se encontrava em "estado crítico" depois de ter sofrido queimaduras em "mais de 80%" do corpo, segundo os médicos.
Um funcionário hospitalar, que não se quis identificar, disse na quarta-feira à agência de notícias France-Presse (AFP) que o estado da atleta tinha piorado depois desta ter "desenvolvido uma septicemia".
De acordo com um relatório da polícia consultado pela AFP, o suspeito, identificado como Dickson Ndiema Marangach, invadiu a propriedade de Rebecca Cheptegei por volta das 14:00 no domingo (12:00 em Lisboa), enquanto esta se encontrava na igreja com os filhos.
A maratonista vivia com a irmã e dois filhos na casa que tinha construído em Endebess, cidade onde treinava, a 25 quilómetros da fronteira com o Uganda, disse na terça-feira o pai da atleta, Joseph Cheptegei.
Quando regressavam da igreja, Dickson Ndiema Marangach encharcou-a com gasolina e pegou-lhe fogo à frente das filhas, duas meninas de 9 e 11 anos, segundo o jornal The Standard.
O relatório da polícia descreveu Rebecca Cheptegei e Dickson Ndiema Marangach como "um casal que tinha constantes disputas familiares".
Nos últimos anos, várias tragédias enlutaram o mundo do atletismo queniano.
Em abril de 2022, o corpo de uma atleta do Bahrein de origem queniana, Damaris Mutua, foi encontrado em Iten, famoso local de treinos para corridas de longa distância nos planaltos do vale do Rift. O companheiro é suspeito do crime.
Em outubro de 2021, a promissora atleta de 25 anos Agnes Tirop, dupla medalha de bronze mundial nos 10 mil metros (2017, 2019) e 4.ª nos Jogos Olímpicos de Tóquio nos cinco mil metros, foi encontrada esfaqueada em casa, em Iten.
O marido, Emmanuel Ibrahim Rotich, está a ser julgado por homicídio, negando as acusações.