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Madeira

MP pede condenação para homem que matou companheira na Meia Légua

Ernesto Pestana deixou um pedido de desculpas à família da vítima pelo crime cometido; acórdão será publicado dia 8 de Outubro às 14 horas

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Na continuação do julgamento de Ernesto Pestana, o homem de 51 anos que no ano passado assassinou a companheira na Meia Légua, na Ribeira Brava, a procuradora do Ministério Público pediu condenação para o arguido por homicídio qualificado.

No início da sessão, que decorreu esta manhã no Tribunal do Funchal, no Edifício 2000, e onde foram ouvidas cinco testemunhas, Carlos Marques, inspector da Polícia Judiciária que interveio na investigação do caso, confirmou que a mulher foi morta à queima-roupa, que a munição estava alinhada e que o arguido encostou a arma ao pescoço da vítima e disparou.

Além disso, disse que Ernesto Pestana disparou apenas uma vez, mas confirmou que, no chão do quarto, estavam espalhadas mais três munições.

Referiu ainda que posteriormente foram encontradas por familiares 39 munições e um carregador de outra arma que já tinha sido apreendida anteriormente.

"Dentro do tambor do revolver estava uma deflagrada e outra por deflagrar", explicou, voltando a insistir que a arma disparada estava alinhada e que o arguido "tinha consciência de que iria fazer o disparo".

Carlos Marques referiu ainda que aparentemente a vítima não manifestou qualquer intenção de defesa e que "ou estaria a dormir ou pelo menos de olhos fechados".

"Ela tinha na mão uma embalagem de tabaco de cheirar e continuou com ela na mão, o que significa que não se terá apercebido do disparo", acrescentou.

Quem também foi ouvido no Tribunal pela juíza Teresa Sousa foi o irmão da vítima mortal.

José Manuel Gouveia admitiu que a relação entre a irmã e o companheiro "nunca foi bem aceite pela família", até porque Ernesto Pestana já tinha problemas de alcoolismo.

"A minha irmã já tinha problemas de bebida e quando se juntou a ele começou a beber mais", referiu.

A testemunha disse ainda que no dia do crime ouviu o casal a discutir do quintal da sua casa, que fica mesmo ao lado, mas que não se meteu na briga.

"Não fui lá perguntar nada porque já era normal acontecer", admitiu, garantindo que nesse dia eles estavam bêbados.

Depois, foi ver um jogo de futebol e só soube da tragédia posteriormente. Quando chegou, já não encontrou o assassino nem o deixaram ver a irmã.

A filha do arguido, Angela Pestana, também quis prestar o seu depoimento. Deixou claro que a falecida tratava-a como uma filha, motivo pelo qual a tratava com carinho como "Tia Délia".

Revelou que nesse dia estava na casa da falecida com o namorado e que até ao momento em que saiu da casa "estava tudo bem entre eles".

"Ela até desabafou comigo nesse dia e emocionou-se bastante. Estava bastante deprimida por ter problemas familiares e descobriu recentemente que tinha Lúpus e problemas de ossos, motivo pelo qual tomava bastantes comprimidos", contou, admitindo que "nesse dia ela estava desorientada".

Disse ainda que a única bebida que viu o pai ingerir nesse dia foram duas aguardentes quando foi pô-la a casa, na Serra de Água, por volta das 19h.

"Ele ligou-me pelas 21 horas, desorientado e alcoolizado e eu nem queria acreditar. Disse-me: eu matei a tua tia Délia", contou emocionada, referindo que depois contactou as autoridades porque ele disse que se ia entregar.

Ângela Pestana confirmou que o álcool era o único problema do casal, mas que, de resto, "tinham uma relação normal". No entanto, referiu que ultimamente a vítima costumava provocar o pai quando estava embriagada e que, inclusive, chegou a dar-lhe pontapés nas costas.

"O único problema era a bebida", confirmou, garantindo que o pai fazia questão de que não houvessem bebidas alcoólicas em casa e que muitas vezes as próprias vizinham chegavam lá com bebidas alcoólicas.

Outra testemunha ouvida foi o sobrinho da vítima. Pedro Fernandes confessou que encontrou cerca de 40 munições nos guarda-fatos e que as entregou às autoridades.

No entanto, disse que a relação entre a tia e o companheiro "era boa, mas que bebiam uns copinhos". Não vê qualquer motivo para isto ter acontecido.

Já Carlos Abreu Marcial, outro vizinho do casal, explicou que encontrou o arguido no dia do crime e que "ele aparentava estar calmo".

"Da porta para dentro não sei o que se passava, da porta para fora pareciam dar-se bem", adiantou, garantindo que nunca viu Ernesto Pestana manifestar qualquer comportamento agressivo para com a vítima.

"Posso dizer que bebiam um copo, mas se eram alcoólicos não sei", acrescentou.

Por fim, a última palavra foi do arguido que deixou um pedido de desculpas à família da vítima pelo crime cometido.

Tal como já foi noticiado, o crime ocorreu a 21 de Maio de 2023 no quarto da casa onde ambos viviam. Uma tragédia que deixou a vizinhança em choque.

No início do julgamento, a 25 de Junho passado, o levadeiro admitiu que disparou sobre a mulher, mas disse que não tinha intenções de a matar.

“Eu, naquela coisa do momento, encostei a arma debaixo do pescoço dela. Mas nunca tive intenções de disparar a arma. Só me lembro do disparo. Não me lembro de puxar o gatilho. Fui eu. Era só para a assustar. Quando a arma disparou eu fiquei em pânico”, descreveu Ernesto Pestana, que disse ter ligado depois à filha, a quem anunciou que acabara de matar a companheira e pediu para chamar a Polícia.

As discussões entre ambos eram frequentes até porque o casal tinha problemas de alcoolismo.