Os filmes do Cine Casino
A magia do Cinema começou cedo.
Conheci o Deck, Dom João, Santa Maria, Cine Parque e até o Cine Jardim. Todos fecharam, o que é muito triste, à excepção do Teatro felizmente, claro.
Todos fizeram parte da minha experiência cinematográfica, no entanto o que sempre me foi mais especial, foi o Cine Casino.
Já apreciava o seu design sedutor, sem ter a noção “visual” disso.Em 1984 fui barrado de ver o “Footloose”, imagine-se! Fiquei furibundo.
Comparado com o aumento de violência e sexo que há hoje…Eu gostava do videoclip que dava na TV provavelmente no “European Countdown”.
Aquela bilheteira pequenina à direita...
À entrada do Cinema tinha os lobby cards- o do “Rambo” (1982) de faca na mão.
Aquele poster do “Psico 2” (1983) que me amedrontava. Filmes de terror, eram filmes para adultos, inacessíveis, obscuros. Anos depois devorei-os para compensar! Incluindo o “Psico 2”, claro!
Havia outros posters que também lá duravam muito tempo, inclusive de filmes que nem acabavam por chegar e ser exibidos.
Sentava-me na cadeira amarela-esverdeada, ouvia-se os badalos e olhava para cima e gostava de ver as luzes a se desvanecer. O filme ia começar!
Só havia os trailers antes do filme e não havia as publicidades ruidosas e extensivas como agora.
Alguns dos filmes que me marcaram no Casino…
Dos primeiros que me recordo no Casino foi o “E.T.”. Sala completamente cheia que até usaram cadeiras extras - a imagem de uma freira sentada numa cadeira extra lá ao fundo-nunca me saiu da memória. Antes deste filme (“blockbuster” brutal) começar- esse curiosamente passou uma publicidade (!) das pilhas Tudor, com um jogo de Hóquei em gelo! O que me levou instintivamente a pensar que era uma cena do “E.T.”.
O “Gremlins” (1984) com um dos planos cinematográficos mais criativos que já alguma vez assisti em toda a minha vida. A fita do filme a ser queimada e destruída pelos Gremlins, como que os próprios estivessem na sala de projecção do próprio cinema! Ideia genial vinda da mente do realizador Joe Dante.
“Quem tramou Roger Rabbit?” (1988), filme direccionado para o mercado infantil com grandes efeitos visuais conjugando pessoas e desenhos animados. Quem esquece Jessica Rabbit? Vi com os meus amigos, casa cheia.
“Batman”(1989), o filme que estava com a maior expectativa! Houve um marketing brutal. O início retumbante com o travelling “voador” e a música de Danny Elfman. Até fiz a caderneta do filme, que vinha sempre com o mesmo conjunto de cromos sequenciados em cada saqueta! Bom negócio…
Ao intervalo dos filmes subíamos e comprávamos um chocolate “Arlequim”.
Quando o filme acabava, havia a parte lateral de madeira que usávamos como toboggan para deslizar. A liberdade louca de ser criança.
Saímos pela parte de baixo, por aquelas escadas e apanhávamos toda aquela luz natural contrastante e voltávamos ao mundo real.
O último que assisti no Casino foi o “Asterix e Obelix contra Cesar”, numa sessão especial promovida pelo Diário. E, Já se passaram 25 anos…
O Casino (o edifício com a “gelatina”) todo muito bem idealizado e projectado pelo grande arquitecto Oscar Niemeyer. Que nem passou por cá, mas isso não invalida o trabalho. Pois, as ideias, as linhas e o projeto são inevitavelmente dele.
O cinema também é o nosso “filme” de ver o filme. A sala que o vimos, a nossa fase da vida, com quem o vimos, o reportório visual e obviamente o filme que é um produto da época em que foi feito.
As salas evoluíram, e multiplicaram-se. Temos melhor imagem, som e conforto.
Mas a ida ao cinema perdeu o “momento especial”. Está mais banalizada, a mística da ida ao cinema perdeu-se muito infelizmente…
O extenso tamanho da tela é ainda o grande trunfo do cinema, mas o “streaming” vai crescendo…
Rodrigo Costa