Presidente da República valoriza vítimas do continente e “está-se nas tintas” para as da Madeira?
Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro vistam, hoje, as zonas afectadas pelos recentes incêndios do Norte e Centro do País. Uma forma de manifestarem solidariedade para com as vítimas dos fogos e de contacto directo com tais populações, por parte do Presidente da República e do Primeiro-ministro.
A notícia sobre essa visita provocou alguns comentários nas redes sociais, que vão ao encontro de alguns outros ouvidos nas ruas, mas até em alguns meios políticos. Afirmações que vincam a ideia de que o Presidente da República se preocupa com as populações, as vítimas registadas no continente, mas não manifesta idêntica preocupação com as da Madeira.
Corresponderá essa ideia à realidade?
A análise à veracidade da afirmação/ideia vai incidir em duas vertentes: intenção e realização. Não deixamos de considerar o adágio popular que afirma: “De boas intenções está o inferno cheio”. Mas também não é possível analisar o mundo político sem considerar as intenções.
A Madeira foi, como é sobejamente conhecido na ilha, atingida por fagos florestais e rurais na segunda quinzena de Agosto último, durante 11 dias.
No dia 23 daquele mês, com os incêndios ainda a decorrer, Marcelo Rebelo de Sousa admitia realizar uma visita à Madeira mas quando a situação do fogo estivesse resolvida, depois de logo do dia 18, ter feito saber por Ireneu Barreto que estava preocupado e solidário para com os madeirenses.
No dia 27, ainda de Agosto, o Representante da República afirmou desejar a visita de Marcelo Revelo de Sousa “o mais cedo possível”. Mas, naquele momento, tinha apenas uma certeza: “O senhor Presidente da República virá quando achar que é oportuno”.
“O senhor Presidente da República pediu-me que viesse cá com esses objectivos – agradecimento e solidariedade - e prometeu que cá viria. Não temos datas, não temos ainda objectivos, não sabemos se o senhor Presidente da República virá fazer uma visita que já fez aos Açores onde visitou todos os concelhos. Eu gostaria que ele fizesse isso antes de terminar o seu mandato”. Dito por outras palavras “que viesse o mais cedo possível”.
No dia 1 de Setembro, já com a situação dos fogos resolvida, o presidente do Governo Regional disse ser perfeitamente desnecessária a vinda do Presidente da República à Madeira, “a menos que queira ver eucaliptos e mato queimado”. “O que é que ele vem fazer?”
Entretanto um mês se passou, a Madeira e o Governo Regional voltaram a ser abaladas pro uma investigação judicial, com corrupção à mistura, e a vista de Marcelo Rebelo de Sousa não ser efectivou.
No entanto, as palavras de Ireneu Barreto, em Agosto, as últimas sobre o assunto, não se limitavam à questão dos incêndios. Por isso e mesmo considerando com efeito político a posição assumida pelo Governo Regional, quanto à visita no pós-incêndios, a vinda de Marcelo Rebelo de Sousa continua válida. Ainda assim, com objectivo substancialmente diferente da que hoje está a ser efectuada a Baião, Vila Pouca de Aguiar e Sever do Vouga.
Desde que se tornou Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa já visitou a Madeira, pelo menos, 14 vezes. A última foi em Março do ano passado. Nesse mês, ficou na Madeira cerca de 24 horas.
Marcelo esteve no XII Congresso dos Juízes Portugueses, onde partilhou o espaço e notoriedade com a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, a procuradora-geral da República, Lucília Gago, e o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Henrique Araújo.
Na tarde do mesmo dia 17 de Março, presidiu à inauguração da sede da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social - SEDES.
Nas visitas anteriores, mas no actual mandato, Marcelo Rebelo de Sousa esteva na Madeira em Maio, Junho e Julho de 2021. No primeiro momento reuniu-se com os partidos da Assembleia Legislativa, com Miguel Albuquerque, na Quinta Vigia, e com o Representante da República, no Palácio de São Lourenço.
A razão da segunda visita foi as comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal e a terceira foi motivada, acima de tudo, pela participação na sessão solene da Assembleia Legislativa da Madeira, que assinalou o seu 45º aniversário.
Ainda sobre a visita anunciada em Agosto deste ano e não concretizada até agora, relembrámos outro adágio popular: ‘A banquete e noivado só vai quem é convidado’. Não que Marcelo Rebelo de Sousa, pela sua personalidade e pelas suas funções, necessite de convite para se deslocar a qualquer parte do território nacional. No entanto, ver a sua presença desejada ou considerada completamente desnecessária faz diferença. Por esta razão e pelo facto de a visita à Madeira se manter em aberto, ainda que tardia, relativamente à ocorrência do incêndios, não se pode afirmar que o Presidente da República se está nas tintas para a Madeira e, subentendido, as suas vítimas.
Por tudo isto, a frase do leitor do DIÁRIO, deixada na rede Facebook, deve de ser considerada falsa.