Clima e sustentabilidade em cimeira com 150 conferencistas e sem patrocínios
Mais de 150 pessoas vão debater o clima e a sustentabilidade durante dois dias numa cimeira "independente, colaborativa e focada em soluções", e sem patrocínios do petróleo, anunciou a fundadora da iniciativa, Patricia Imbarus.
De origem romena, mas a viver há mais de uma década em Portugal, a especialista em sustentabilidade, estratégia empresarial e inovação trabalha na área da justiça climática e social e fundou em 2019 a "Ethical Assembly", uma cimeira global sobre clima e justiça social.
A cimeira junta cientistas, legisladores, investidores, jornalistas, empreendedores e ativistas, procurando ter na quarta e quinta-feira, no Beato em Lisboa, mais de mil pessoas, à volta de 150 oradores em 70 sessões.
Numa altura em que tanto se fala de clima e de sustentabilidade, o que tem para oferecer de novo a "Ethical Assembly"? Patricia Imbarus, licenciada em Finanças, Economia e Gestão, responde que tudo.
Numa entrevista à agência Lusa, explica que criou a "Ethical Assembly" para ajudar a enfrentar a crise mais urgente da atualidade com um evento que se interliga e focado em soluções. Porque o que tem visto nesta área a tem desapontado.
"Ao longo dos anos, a maioria das conferências focadas na sustentabilidade, ou no clima, são patrocinadas por grandes poluidores, grandes empresas do petróleo, e dominadas por narrativas unilaterais. Não me fazia muito sentido estar num evento em que se falava da urgência da crise climática mas tendo no palco oradores das petrolíferas", diz.
É certo, admite, que todos têm de descarbonizar, incluindo as empresas energéticas. Mas acrescenta que há demasiado "greenwashing", muita pressão, muitos eventos patrocinados por pessoas "com valores e princípios que não alinham com uma transição justa".
"Já não temos muito tempo para mudar. Não temos tempo para esse tipo de conversas, temos de nos focar nas soluções, nas propostas com potencial para uma mudança significativa", diz, lembrando que segundo a página "climateclock.world" restam pouco mais de quatro anos para o planeta atingir os 1,5 °C de aquecimento global.
A questão do patrocínio das conferências influencia a agenda, os preços para se participar são elevados, e a ausência de uma diversidade de vozes "cria uma narrativa pobre", considera a responsável, acrescentando que há soluções e pessoas a trabalhar nelas "para fazer a diferença" que nunca chegam aos palcos.
"Foi por isso que comecei este evento em 2019, para tentar democratizar o acesso a estes assuntos do clima, focado em soluções, sem uma agenda política e sem um patrocinador".
É assim que nos dois dias da "Ethical Assembly" se vai falar das alterações climáticas, da descarbonização, da agricultura regenerativa, da economia circular ou dos direitos humanos, da água ou da moda, entre muitos outros temas, alguns "fora da caixa". E como em outros anos criar parcerias e colaborações.
Na conferência há comunicações a decorrer em dois palcos, favorecendo a troca de ideias. E, assegura a responsável, não será um espaço de troca de cartões de visita, nem de "vips" e nem de 'merchandising'.
Será "um espaço de materiais emprestados e alugados, construído por nós, reciclado e reciclável, sem imensas garrafas de plástico e sem materiais usados uma só vez como nas grandes conferências".
E acrescenta: "A indústria das conferências é das mais poluidoras, tudo construído para um ou dois dias, e depois vai tudo para o lixo, e são recursos tirados do planeta".
No "Beato Innovation District" estarão entre outros a ativista climática e atriz Lili Cole ("Starr Wars"), a designer neerlandesa Jeanne de Kroon entre muitos outros oradores das 70 sessões, portugueses e estrangeiros.
Haverá também o que os organizadores chamam de "workshops dinâmicos" e uma programação cultural que inclui exposições de pintura ou fotografia e documentários como, em estreia no país, o "Planet Soil".
Patricia Imbarus fala ainda do destaque dados aos jovens, porque na luta contra as mudanças climáticas o impulso maior é dado por eles, reconhece, lamentando que vejam reprimidas as suas manifestações pacíficas.
"Está a tornar-se perigoso", diz, salientando que não são os jovens quem devia ir para a prisão.
Para uma mudança, afiança, são precisos os jovens, as empresas, os governos.
"Mas os interesses económicos e políticos ainda estão muito ligados ao petróleo".