Ver a nossa floresta, para além das árvores
É urgente ver a nossa floresta para além das árvores, concedendo-lhe a importância central que a mesma merece
Há muito que escrevo sobre a necessidade de uma reflexão aprofundada e de uma inversão urgente das prioridades governativas da nossa Região.
Parece evidente que uma das nossas principais prioridades deverá ser a conservação da nossa natureza, das nossas reservas e espécies protegidas no arquipélago e claro da nossa jóia valiosíssima - a Laurissilva – património que não é só nosso, mas de todo o mundo.
Temos o dever de manter a natureza luxuriante da nossa terra, o legado dos nossos antepassados e aquilo que mais distingue a nossa Região de outros destinos turísticos – a natureza e uma floresta peculiar, como é a da Laurissilva.
As sucessivas catástrofes naturais que têm vindo a assolar a Região, como foi o caso do “20 de fevereiro” e os inúmeros incêndios, infelizmente cada vez mais frequentes, já deveriam ter levado a um outro olhar e à devida priorização da conservação da nossa natureza, como um dos nossos ativos mais valiosos e importantes.
É urgente ver a nossa floresta para além das árvores, concedendo-lhe a importância central que a mesma merece, ao nível das opções governativas e dos recursos financeiros e humanos que lhe são alocados.
O nosso futuro passa certamente pela centralidade da conservação da natureza e por uma redefinição urgente das prioridades em torno da mesma.
Recordo a este propósito e com saudade, todos os ensinamentos e passeios a pé realizados com o meu avô José pelas nossas serras.
Praticamente todos os domingos era dia de passeio e de percorrer uma das muitas levadas e trilhos na sua companhia.
Conhecia a serra como ninguém. Com ele aprendi a apreciar a beleza e o silêncio da nossa floresta, a admirar a pureza da água, nas inúmeras nascentes e cascatas e a contemplar o trabalho hercúleo de construção das nossas levadas, levado a cabo pelos nossos antepassados.
O meu avô adorava passar o seu tempo na natureza e via a nossa floresta e o seu potencial, para além das árvores. Era um dos muitos guardiões e defensores da nossa floresta cujo legado incumbe preservar e honrar.
Não poderia terminar, sem uma palavra de agradecimento aos nossos heróis - aos nossos bombeiros que foram incansáveis, no combate aos incêndios. Muito obrigado!
Um agradecimento também à preciosa ajuda vinda do Governo da República, de Espanha e dos Açores, uma ajuda imprescindível para debelar e conter as chamas.
Este combate pôs a nu e perante todos, diversas fragilidades e demonstrou que o tempo que vivemos é de interajuda, de cooperação e de colaboração e não de isolamento ou de recusa de ajuda.
Um agradecimento, a todos os que saíram do conforto das suas casas, em especial, aos autarcas das zonas afetadas que estiveram desde a primeira hora, como é exigido, do lado da população, servindo a causa pública, com dedicação, respeito, humildade e prestígio.
Um Bem-haja a todos, os que estiveram bem. Como diz o adágio popular, “não podemos confundir uma árvore com a floresta”. É preciso ter esperança no futuro, no coletivo e ver mais além.