A Madeira ardeu, nada pode como ficar como antes
A Madeira ardeu como não há memória!...Para trás ficou um rasto de destruição que levará décadas a recuperar. A perda de biodiversidade foi enorme, principalmente na vegetação milenar de altitude, caracterizada por espécies de plantas e de animais únicos à escala planetária. A Laurissilva também sofreu em vários pontos da Ilha.
Perante tamanho desastre, e com o clima a aquecer de forma evidente, só nos resta uma atitude: Mudar! Mudar as instituições, mudar a forma de pensar e de agir, em suma, reformular com arrojo e determinação, como os tempos actuais assim o exigem.
O Parque Natural da Madeira, deverá ser reactivado nas suas competências, de modo a que os seus dois principais ecossistemas, a Floresta Laurissilva e o Maciço Montanhoso Central, possam ser novamente alvo de atenção extrema e dedicada, obedecendo aos mais rigorosos conceitos actuais da conservação da natureza.
A Laurissilva consiste no único Bem do País com o estatuto de Património Mundial, o que só por si justifica uma gestão o mais competente possível, como se de um santuário se tratasse…
As montanhas da Ilha são detentoras de uma biodiversidade impressionante, biodiversidade essa, extremamente frágil e vulnerável a factores adversos externos, como sejam as plantas invasoras e, obviamente os incêndios.
O Parque Natural da Madeira, dada a sua vocação exclusiva de conservação da natureza, deverá sair da alçada florestal. Deverá congregar gente capaz, dedicada e no terreno, e reger-se por planos de acção adequados, com vigência mínima de 10 anos, onde o controlo das plantas invasoras figure como a prioridade das prioridades, longe da fotografia e da retórica demagógica.
Os Serviços Florestais, ocupar-se-iam, como é sua vocação, da melhoria efectiva da floresta de produção e das inadiáveis acções de reconversão da floresta exótica, substituindo-se aos privados, provavelmente em extensas áreas. Teriam muito com que ocupar-se nessa nobre missão.
Tudo o que acabo de mencionar, poderia estar implementado há muitos anos, em benefício da Região e de todos, não fora gente pequena, com mentalidade atávica, lançar sistematicamente pedras ao caminho sempre que alguma mudança era pretendida.
Entretanto, não há tempo para grandes descansos; as plantas invasoras, principalmente a giesta e a carqueja, já estão à espreita para avançar montanhas adentro, cobrindo-as rapidamente de um verde traiçoeiro e enganador. Serão necessárias muita atenção e muita acção no terreno, devendo deixar-se lá permanecer os restos da vegetação queimada, que ainda vão desempenhando a sua função em fixar o terreno, e captando alguma humidade dos nevoeiros. A Natureza encarregar-se-á com o tempo, de os fazer regressar ao solo.
Enquanto escrevia estas linhas, veio-me à mente a Violeta Amarela das montanhas da Ilha. Será que esta bela planta, única no mundo, conseguiu sobreviver a tudo isto?
Quando uma espécie se extingue, é para sempre!...
É este o meu contributo enquanto cidadão e técnico interessado.